quinta-feira, 29 de novembro de 2012

AS REVOLTAS DO BRASIL IMPERIAL - A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA


A Revolução pernambucanade 1817 foi o último movimento de revolta anterior à Independência do Brasil. Mas, diferentemente de todos os outros movimentos sediciosos que eclodiram no período colonial, a Revolução pernambucana conseguiu ultrapassar a fase conspiratória e atingir a etapa do processo revolucionário de tomada do poder. As causas da Revolução pernambucana estão intimamente relacionadas ao estabelecimento e permanência do governo português no Brasil (1808-1821).

Quando a Corte portuguesa abandonou Portugal e estabeleceu-se no Brasil, fugindo da invasão napoleônica, adotou uma série de medidas econômicas e comerciais que geraram crescente insatisfação da população colonial. A implantação dos novos órgãos administrativos governamentais e a transmigração da Corte e da família real portuguesa exigiram vultosas somas de recursos financeiros. Para obtê-las, a Coroa lusitana rompeu com o pacto colonial, concedendo inúmeros privilégios à burguesia comercial inglesa, e criou novos impostos e tributos que oneraram as camadas populares e os proprietários rurais brasileiros.

Ideais liberais em Pernambuco


Em nenhuma outra região, a impopularidade da Corte portuguesa foi tão intensa quanto em Pernambuco. Outrora um dos mais importantes e prósperos centros da produção açucareira do Nordeste brasileiro, Pernambuco estava atravessando uma grave crise econômica em razão do declínio das exportações do açúcar e do algodão. Além disso, a grande seca de 1816 devastou a agricultura, provocou fome e espalhou a miséria pela região. A insatisfação popular, que já era grande, generalizou-se diante dos pesados tributos e impostos, cobrados pelo governo de dom João.

Foi também em Pernambuco, que os princípios de "liberdade, igualdade e fraternidade", que compunham os ideais da Revolução Francesa de 1789, encontraram "solo fértil" para circular e se propagar. Coube as sociedades secretas e ao maçons, a organização de permanentes e acirrados debates sobre as novas doutrinas revolucionárias, com o propósito de avaliar a adequação dessas idéias à situação de crescente insatisfação da população colonial da região do Nordeste brasileiro. Destacaram-se neste trabalho, os padres João Ribeiro e Miguelinho, e os líderes maçons Domingos José Martins e Antônio Cruz.

Governo provisório


O movimento de revolta ainda estava em sua fase preparatória, quando o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro tomou conhecimento da conspiração, ordenando, em seguida, a prisão imediata dos envolvidos. Porém, os pernambucanos rebeldes conseguiram resistir ao cerco das tropas militares oficiais. Esse fato é considerado como o estopim da rebelião, que rapidamente ganhou força. Diante disso, o governador fugiu do palácio, mas foi preso pelos rebeldes.

Os rebeldes tomaram o palácio e em pouco tempo dominaram Recife. Os líderes da rebelião chegaram a constituir um governo provisório, composto por representantes de várias classes sociais. A partir de então, para consolidar o movimento revolucionário, os rebeldes adotaram uma série de medidas de caráter político e econômico com objetivo de obter o apoio da população e das elites locais. De imediato, o governo provisório ordenou a libertação dos presos políticos, aumentou o soldo dos soldados, aboliu os títulos de nobreza e extinguiu alguns impostos.

Falta de apoio e repressão


O governo provisório também organizou grupos de emissários, que ficaram encarregados de se dirigirem para as províncias do Norte e Nordeste para desencadear um movimento revolucionário mais amplo. Na Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, porém, as tentativas malograram diante da repressão desencadeada por forças militares oficiais, e também pela falta de apoio popular. Em Pernambuco, dom João ordenou uma violentíssima repressão militar contra os revolucionários.

As tropas oficiais atacaram por terra e mar, cercando o porto de Recife com uma grande esquadra. O governo provisório durou 75 dias, os revolucionários pernambucanos foram derrotados. Os que não morreram em combate foram rapidamente presos. Todos os líderes revolucionários presos acabaram sendo sumariamente condenados à morte, entre eles: Teotônio Jorge, padre Pedro de Souza Tenório, Antônio Henriques e José de Barros Lima.

República e revolução


As lideranças do movimento revolucionário tinham como projeto político o estabelecimento de uma República e a elaboração de uma Constituição, norteadas pelos princípios e ideais franceses de igualdade e liberdade para todos. Mas, o ideário republicano dos rebeldes encontrou alguns limites de classe diante da questão do trabalho cativo. Para não perder o apoio dos proprietários de engenho locais, as lideranças do movimento revolucionário não chegaram a propor uma ruptura radical com a escravidão negra. Não obstante, a Revolução pernambucana, apesar do seu fracasso, entrou para a história como o maior movimento revolucionário do período colonial.

 

A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR


A Confederação do Equador foi um movimento político ocorrido em 1824 no nordeste brasileiro. Começando em Pernambuco, ampliou-se rapidamente para outras províncias da região, como Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em síntese, a Confederação do Equador - que ganhou esse nome em referência à proximidade do centro do conflito com a linha do Equador - foi um movimento contrário à centralização do poder imperial. Daí, portanto, seu caráter revolucionário e, no extremo, seu aspecto independentista com relação ao Brasil.


O movimento tinha ligações com outros dois episódios importantes ocorridos na mesma região, embora destes não fosse mero reflexo: a
Revolução Pernambucana de 1817 e o Movimento Constitucionalista de 1821. Juntos, os dois haviam ajudado a concretizar em práticas políticas e sociais o ideário liberal - que se contrapunha à centralização do poder imperial - e a luta pela independência, num contraponto ao domínio exercido pelo Rio de Janeiro sobre as demais províncias.

 


Contra a centralização e o autoritarismo


Naquele início de século 19, Pernambuco expressava bem os interesses político-econômicos ligados, de um lado, à manutenção da influência portuguesa sobre o Brasil, e, de outro, ao afastamento do segundo em relação ao primeiro.


A elite agrária produtora de cana-de-açúcar, por exemplo, queria garantir a continuidade das relações com
Portugal. Em contraste, a aristocracia rural, ligada ao cultivo do algodão e articulada ao processo da Revolução Industrial, era favorável às medidas liberalizantes. A transferência da Corte para o Brasil, em 1808, e as medidas tomadas a partir de então, favoreceram esse segundo grupo.


O ponto alto dessa separação entre Brasil e Portugal foi a declaração da
Independência, em 1822. Contudo, o processo de elaboração da primeira constituição brasileira mostrou não apenas a grande influência que os portugueses ainda tinham sobre a vida política brasileira - a começar pelo fato de o primeiro imperador ser português - como também revelou a tendência à centralização do poder, ao invés de sua partilha. O ideário liberal perdia espaço. O fechamento da Assembleia Nacional Constituinte e a outorga da Carta Magna de 1824 por D. Pedro 1° foram expressões desse processo.


Logo após a Independência, formou-se um novo governo em Pernambuco, chamado de "Junta dos Matutos", que contava com a participação dos dois grupos da elite rural pernambucana.

Após a dissolução da Assembleia Constituinte, um dos membros da Junta, Francisco Paes Barreto, foi nomeado pelo imperador para o cargo de governador. Ocorre que outro político, Manuel Carvalho Pais de Andrade, já havia sido eleito pela província. Estava aberto, assim, o conflito entre o Império e Pernambuco.

 


Ampliação e derrota do movimento


A revolta explodiu depois de sucessivos episódios ocorridos após a outorga da Constituição, em março de 1824. Em julho do mesmo ano, Pais de Andrade lançou um manifesto de caráter revolucionário. Em Pernambuco, o movimento teve um aspecto popular e fundamentalmente urbano. Contou também com o apoio da intelectualidade local.

As ideias e propostas expressas pelo movimento logo ganharam apoio de outras províncias do Nordeste, inseridas, por sua vez, num quadro político-social muito semelhante ao de Pernambuco. A Confederação do Equador se formou quando aos pernambucanos se juntaram as províncias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Entre as medidas tomadas pela Confederação do Equador estava a convocação de uma Assembleia Constituinte, a elaboração de um projeto constitucional com base na Carta colombiana (então considerada uma das mais liberais da região), a proposta de extinção do tráfico negreiro e a organização de forças populares de resistência à repressão imperial.


A formação de um governo independente expressava o descontentamento com o centralismo nos primeiros anos pós-Independência. As medidas tomadas pela Confederação, contudo, acabaram levando à divisão do próprio movimento.

Por outro lado, a dura repressão articulada pelo poder central foi decisiva para que o movimento tivesse vida curta. Vários líderes da Confederação do Equador foram condenados ao fuzilamento - caso de
Frei Caneca. Outros, como Cipriano Barata, continuaram presos durante algum tempo.


Ainda assim, a Confederação do Equador foi um movimento importante na história do Brasil, pois extrapolou a simples conspiração, existindo concretamente (ainda que por pouco tempo), e se diferenciou dos outros movimentos independentistas da época pela ampla participação popular que registrou.

AS REVOLUÇÕES INGLESAS - A REVOLUÇÃO GLORIOSA


Com a morte de Oliver Cromwell, seu filho Richard, assumiu o cargo de Lorde Protetor. Sem o reconhecimento do exército, foi logo destituído, sendo o Parlamento convocado para legitimar o poder dos generais. Com o crescimento da mobilização das camadas populares, as elites assustadas, começaram a articular a restauração da monarquia. Em 1660, Carlos II, filho do rei decapitado, lançou a chamada "Declaração de Breda", onde prometeu governar mantendo a tolerância religiosa e respeitando o Parlamento e as relações de propriedade existentes. Com apoio de Luiz XIV, o "rei sol" da França, Carlos II converteu-se publicamente ao catolicismo, provocando a retomada da luta por parte do Parlamento, que em 1679 aprovou o "Habeas Corpus", garantindo aso cidadãos a segurança frente aos supostos abusos do governo. Em seguida foi publicado o "Ato de Exclusão", que impedia qualquer católico do exercício de funções públicas, incluindo a de rei. Com a morte de Carlos II (1685), subiu ao trono seu irmão Jaime II, que procurou novamente conduzir o país para o catolicismo, fortalecendo seu poder, em prejuízo do Parlamento.

Carlos II

Entrando em acordo secreto com Guilherme de Orange, príncipe da Holanda e genro de Jaime II, o Parlamento se mobilizou contra o rei, visando entregar-lhe o poder. As tropas abandonaram Jaime II e em junho de 1688 Guilherme de Orange era feito rei com o nome de Guilherme III. Este episódio é conhecido na história como "Revolução Gloriosa".
Sem derramamento de sangue e representando um compromisso de classe entre os grandes proprietários rurais e a burguesia inglesa, a Revolução Gloriosa marginalizava o povo além de mostrar que para acabar com o absolutismo, não era necessária a eliminação da figura do rei, desde que esse aceitasse se submeter às decisões do Parlamento. Representando a transição política de uma Monarquia Absolutista para uma Monarquia Parlamentar, a Revolução Gloriosa inaugurava a atual política inglesa onde o poder do rei está submetido ao Parlamento

A vitória de Guilherme de Orange

O novo rei aceitou a "Declaração de Direitos" (Bill of Rights) e em 1689 assumiu a Coroa, marcando o fim do choque entre rei e Parlamento. Essa declaração eliminava a censura política e reafirmava o direito exclusivo do Parlamento em estabelecer impostos, e o direito de livre apresentação de petições. Destaca-se ainda a questão militar, onde o recrutamento e manutenção do exército somente seriam admitidos com a aprovação do Parlamento.
Com a Revolução Gloriosa, a burguesia inglesa se libertava do Estado absolutista, que com seu permanente intervencionismo era uma barreira para um mais amplo acúmulo de capital. Dessa forma a burguesia, aliada a aristocracia rural, passou a exercer diretamente o poder político através do Parlamento, caracterizando a formação de um Estado liberal, adequado ao desenvolvimento do capitalismo, que junto a outros fatores, permitirá o pioneirismo inglês na Revolução Industrial em meados do século XVIII.


A Declaração dos Direitos

 

AS REVOLUÇÕES INGLESAS - A REVOLUÇÃO PURITANA

Oliver Cromwell, principal figura militar e política da Revolução Puritana

A chegada dos Stuart ao trono significou uma grande transformação no cenário político da Inglaterra. Abandonando as medidas liberais dos Tudor, o recém-entronizado rei Jaime I era favorável ao poder monárquico absoluto. Além disso, tinha apreço pelos praticantes do catolicismo, ao enxergar nesses uma classe religiosa favorável ao inquestionável poder real.

Pretendendo implantar tais orientações políticas, Jaime I defendia que a dominação britânica sob a Irlanda deveria ser feita sob moldes feudais. Além disso, buscou exercer o monopólio sob a produção têxtil inglesa. Com isso, visava enriquecer os cofres reais e configurar uma forte influência política independente da aprovação do Parlamento inglês. No campo religioso, enfatizou as diretrizes católicas do anglicanismo e privilegiou os súditos católicos.

Morrendo em 1625, Jaime I deixou o trono para seu filho Carlos I. Durante seu reinado, foi obrigado a convocar o Parlamento para a aprovação de gastos com conflitos e guerras. Hostilizado pela instituição, foi pressionado a assinar a Petição de Direitos. Nesse documento, o rei se comprometia a prestar contas ao Parlamento e colocar as questões financeiras e militares sob o domínio da instituição. Indiferente a tais exigências, o rei preferiu dissolver o Parlamento britânico.

Anos mais tarde, Carlos I resolveu restabelecer um antigo tributo: o Ship Money. Esse imposto, que antes era cobrado em algumas zonas portuárias, deveria ser cobrado em todo o território inglês. Tal lei desfavorecia a burguesia, que seria obrigada a limitar seus lucros frente ao tributo real. Forçado por uma guerra a convocar o Parlamento em 1640, o rei mais uma vez levou à tona o conflito existente entre a sua autoridade e o interesse parlamentar.

Nesse momento, o Parlamento radicalizou sua postura exigindo total controle sobre as questões religiosas e tributárias. Além disso, reivindicou a constante convocação das autoridades parlamentares. Em resposta, Carlos I ameaçou mais uma vez extinguir as autoridades parlamentares. Inconformada com a imposição monárquica, os líderes do Parlamento convocaram a formação de uma milícia armada que garantisse a existência do parlamento britânico. Era o início da Revolução Puritana.

Protegendo-se da reação popular, Carlos I dirigiu-se à cidade de Oxford com intuito de organizar um exército capaz de combater as tropas do parlamento. Dessa forma, estabeleceu-se uma guerra civil onde as tropas reais enfrentavam as frentes populares armadas pelo parlamento. Esses populares, de maioria puritana (calvinistas), formaram um grande exército que via na luta um meio de superar suas dificuldades econômicas. Nomeados como integrantes do Exército de Novo Tipo, esses populares começaram a se inserir no processo revolucionário inglês.

Liderados por Oliver Cromwell, os combatentes revolucionários dividiram-se em duas facções políticas: os diggers e os levellers. Os primeiros defendiam uma reforma agrária espontânea que garantisse o acesso dos camponeses à terra. Já o levellers buscavam a total igualdade jurídica entre os cidadãos e a liberdade de culto religioso. Dessa maneira, as camadas populares inglesas se fizeram presentes no debate político da época.

As vitórias dos exércitos de Cromwell nas batalhas de Marston Moor e Naseby figuraram um importante passo para a conquistas dos ideais democráticos defendidos pelos diggers e levellers. No momento em que os mais moderados arquitetavam a desmobilização do exército de Novo Tipo, as tropas foram convocadas a lutarem mais uma vez contra as tropas da realeza. Nesse confronto, o rei Carlos I foi capturado e decapitado, em janeiro de 1649.

Exercendo grande hegemonia política, os exércitos decretaram o fim da monarquia inglesa e a proclamação de um governo republicano. Nesse novo governo, os moderados foram excluídos do parlamento e Oliver Cromwell foi aclamado como presidente do novo Conselho de Estado ou Commonwealth. Acumulando poderes políticos em mãos, Cromwell não atendeu às exigências do exército que o colocou no poder. Dessa maneira, implementou uma ditadura que excluiu os populares das instituições políticas.

Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen - a declaração dos direitos do Homem e do Cidadão

A Assembléia Nacional Constituinte da França revolucionária aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, sintetizando em dezessete artigos.
Pela primeira vez são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do Homem (ou do homem moderno,o homem segundo a burguesia) de forma ecumênica, visando abarcar toda a humanidade. Tal declaração poderá ser alterada com o tempo.



Alguns Artigos Presentes na Declaração:

Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.

Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.

Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.

Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.

"A Liberdade Guiando o Povo", de Eugène Delacroix


A Liberdade Guiando o Povo (em francês: La Liberté guidant le peuple) é uma pintura de Eugène Delacroix em comemoração à Revolução de Julho de 1830, com a queda de Carlos X.
Segue abaixo uma análise dos elementos que compõem o quadro.
1: A Mulher:
A mulher com o corpo desnudo, carregando uma bandeira e um fuzil representa a liberdade, que guia o povo para seu ideal.
2: O Garoto:
O Garoto que avança empunhando duas pistolas representa a classe dos estudantes, que tiverem papel importante na revolução.

3: O Homem Caído:
O homem caído no chão, olhando para a mulher, indicando que vale a pena lutar se o objetivo é tão belo.
4: Os dois Homens:
Os 2 homems à esquerda da imagem, representam as diversas classes sociais. Um homem bem vestido, empunhando uma arma representa um burguês, e logo atrás, um negro com uma espada representa a classe operária.
5: As tropas:
No fundo da imagem, à direita, pode-se ver as tropas do exército, rumando contra os manifestantes.
6: Os Cadáveres:
Aos pés dos manifestantes, vários cadáveres, indicando a vitória dos revolucionários. Nota-se que um deles é um soldado e outro um oficial.



JACOBINOS E GIRONDINOS

Após a revolução, o terceiro estado começa a se transformar e partidos começam a surgir com opiniões diversificadas.

Os jacobinos são membros revolucionários, que receberam esse nome pois reuniam-se inicialmente no Convento de São Tiago dos dominicanos (do nome Tiago em latim: Jacobus e do francês Saint-Jacques). Defendem mudanças mais radicais que os girondiinos: são contrários à Monarquia e querem implantar uma República. Representam a pequena e média burguesia. Esse grupo é apoiado por um dos setores mais populares da França - os Sans-cullotes. Sentam-se à esquerda do salão de reuniões. E são conhecidos como o grupo da Montanha, pois ocupam a parte mais alta da Câmara. . Liderados por Robespierre e Saint-Just, os jacobinos eram radicais e defendiam também profundas mudanças na sociedade que beneficiassem os mais pobres.



Robespierre

 Os Girondinos faziam parte um grupo político moderado durante o processo da Revolução Francesa. Seus integrantes faziam parte da burguesia francesa. Eram assim chamados, pois faziam parte do partido político conhecido como Gironda. Liderados por Jacques Pierre Brissot, os Girondinos compunham o Terceiro Estado, junto com os Jacobinos e os Cordeliers.

Os Girondinos defenderam, durante o processo da Revolução Francesa, a instalação de uma monarquia constitucional na França, após a queda do absolutismo. Portanto eram contrários ao radicalismo defendido pelos jacobinos.

 Com a instituição do regime do Terror pelos jacobinos, os líderes girondinos foram eliminados em outubro de 1793.


Brissot
 

A Revolução Francesa, Jacobinos, Girondinos, Napoleão Bonaparte, uma brevíssima história da contemporaneidade

A Revolução Francesa é um dos mais importantes acontecimentos da história do Ocidente. Não é à toa que o ano de 1789, data que marca o seu início, é também o começo da Idade Contemporânea. Para resumir em poucas palavras o que representou o processo revolucionário francês, é preciso entender que ele foi um dos primeiros passos para o fim do Antigo Regime.

O Antigo Regime representava a velha ordem, um tipo de sociedade em que eram imensos os privilégios para os membros da
Igreja e a nobreza. Essa sociedade era dividida em estamentos, grupos sociais fechados, em que cada um deveria viver conforme as normas de seu grupo. Ou seja, um nobre era sempre um nobre e um elemento do povo era sempre uma pessoa do povo, sem direitos políticos e cheios de deveres para com seu senhor. Assim, o "povo", que era formado por ricos burgueses e humildes camponeses, tinha direitos políticos insignificantes e pagava a maior parte dos tributos que sustentavam o Estado absolutista - isto é, aquele em que o monarca tem poder absoluto.

O pensamento
renascentista, que surgiu a partir do século 14, embora tenha superado em certa medida o poder da Igreja católica, por outro lado fortaleceu o poder dos reis. É somente no século 18, com o surgimento do Iluminismo, que os europeus passaram efetivamente a questionar, mais do que o conhecimento, a forma como a sociedade se organizava. O reino francês foi, então, berço de importantes filósofos iluministas, como Montesquieu, Voltaire, D'Alembert, Diderot e Rousseau.


O século das luzes

Entre as ideias centrais do Iluminismo está a crença na luz da razão, contra as trevas da superstição religiosa. Além disso, defende-se a liberdade, o direito à livre expressão de ideias, e a igualdade entre os homens. Esses elementos serviram como a pólvora que o povo francês (tanto ricos, quanto pobres) usou para explodir as bases do Antigo Regime em seu país. Essas ideias e práticas rapidamente se espalharam por tudo o mundo ocidental, o que levou diversos reinos na Europa e as colônias na América a se transformarem por completo.

Em meio a essas novas ideias, o cenário na França no ano de 1789 não era dos mais tranquilos. Ocorriam crises econômicas, devido às secas nas plantações, bem como aos altos impostos. Havia também descontentamento político, pois o clero e a nobreza aliaram-se para manter seus privilégios e o povo se via cada vez mais pressionado a produzir, sem poder participar da política ou usufruir a produção. A sociedade francesa, como na maior parte da Europa naquele período, era dividida em três Estados ou estamentos: nobreza, clero e povo.

Uma das formas de participação política na França dessa época era a Assembleia dos Estados Gerais. No entanto, ela não era convocada para resolver os problemas da sociedade francesa fazia mais de 100 anos. Em 1789, rei resolveu convocá-la, atendendo às pressões do 1º e 2º Estados (clero e nobreza), que corriam o risco de começar, a partir de então, a pagar impostos. O 3º Estado (povo), vendo que não havia espaço para alcançar seus interesses, já que clero e nobreza votavam juntos e cada Estado tinha direito a um voto, pediram a alteração das leis.




A queda da Bastilha

Para mudar esse estado de coisas, era necessário que fosse feita a Constituição da França, ou seja, o conjunto de leis que estabelece os direitos e deveres de todos os membros da sociedade. Para fazer leis, era preciso a existência de uma Assembleia Constituinte e essa foi, então, convocada pelo povo, à revelia do rei.

O povo organizou-se e desencadeou movimentos radicais, como a tomada da Bastilha, prisão onde estavam as pessoas perseguidas pelo Antigo Regime. A abertura dessa prisão e a libertação dos presos em seu interior, em 14 de julho de 1789, tornou-se um símbolo de que o poder já não estava mais nas mãos do rei. Tinha início a
Revolução.

Temendo ser deposto, o rei Luís 16 organizou tropas para conter os rebeldes. O povo, como resposta, criou a Guarda Nacional francesa, formada por voluntários armados. Essa força conseguiu deter as tropas da nobreza, fazendo com que os nobres fugissem da França e buscassem exílio em outros reinos da Europa. O rei, no entanto, foi detido e não conseguiu fugir. Ainda em 1789, escreveu-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, um documento que defende direitos como a liberdade, a igualdade e a propriedade para todos os cidadãos.




Jacobinos e girondinos

Em 1791 começou a vigorar a nova Constituição francesa. A Assembleia Constituinte, convocada para escrevê-la, foi dissolvida ao concluir sua missão. Em seu lugar, passou a funcionar a Assembleia Legislativa Francesa, que foi palco das disputas que estavam sendo travadas na sociedade como um todo. O exercício da política passou a se fazer a partir da divisão dos poderes entre Legislativo (que faz as leis), exercido pela Assembleia; Executivo (que executa as leis), exercido pelo rei; e Judiciário (que cuida do cumprimento das leis), exercido por juízes eleitos.

Dentro da Assembleia, do lado direito sentavam-se os chamados girondinos, que eram moderados e queriam o respeito à Constituição. Do lado esquerdo, os deputados radicais, que queriam a implantação da República, limitando o poder real. Os da esquerda eram chamados de jacobinos (liderados por
Robespierre) e "cordeliers" (liderados por Danton e Marat).



Esquerda e direita

Devido a essa divisão política existente na França revolucionária do século 18, até os nossos dias usamos a divisão esquerda e direita para nos referirmos aos partidos políticos. Fazendo uma esquematização didática, a esquerda representa os partidos transformadores, com maior preocupação com os pobres, e a direita representa os conservadores, com medidas a favor da preservação do status quo.



Convenção e Diretório

No entanto, mesmo com a Constituição aprovada, revoltas continuaram agitando a França. Os camponeses rebelaram-se. A França declarou guerra à Áustria e à Prússia, temendo a volta dos nobres que lá estavam exilados. O rei, por sua vez, teve seu poder suspenso e novas eleições para a Assembleia foram convocadas em 1792. Os vitoriosos, os deputados da esquerda, inauguram o período político conhecido como Convenção, que é a época mais radical da Revolução Francesa.

Durante a Convenção, a República foi implantada e adotou-se o ano zero francês, como um marco histórico que inaugurava a história da França. Os jacobinos assumiram o poder e decapitaram o rei Luís 16 em 1793. Vários suspeitos de traição à Revolução foram mortos na
guilhotina, como Danton, acusado por Robespierre.

Devido a essa luta intensa, o período da Convenção foi também chamado de Terror. Medidas mais amplas como educação para todos e voto para todos os homens, independente de renda (o chamado sufrágio universal masculino) foram projetos defendidos pelos jacobinos.

No entanto, em 1794, os girondinos conseguiram derrotar Robespierre e assumiram o poder no ano seguinte. Assim, em 1795, iniciou-se o Diretório, restaurando muitos dos privilégios que haviam sido derrubados pela Convenção.




Napoleão Bonaparte

Durante o Diretório, Napoleão Bonaparte, um general popular que havia lutado na Revolução, deu um golpe de Estado em 1799 e tornou-se imperador. Esse golpe teve o apoio do Exército e da burguesia e foi uma forma de deter tanto as intenções mais radicais dos populares, quanto os desejos da nobreza e do clero de manterem seus privilégios.

Com Napoleão inaugurou-se, então, um outro período da história da França, em que as ideias e conquistas da Revolução Francesa foram usadas para fortalecer o poder desse imperador. Assim, Napoleão, além de pretender controlar a França, quis conquistar o mundo, sob o pretexto de levar as conquistas da Revolução a outros países.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A REVOLTA DA SABINADA - RESUMO


Das causas, objetivos, revolta regencial, República Bahiense, como terminou

Introdução

A Sabinada foi uma revolta feita por militares, integrantes da classe média (profissionais liberais, comerciantes, etc) e rica da Bahia. A revolta se estendeu entre os anos de 1837 e 1838. Ganhou este nome, pois seu líder foi o jornalista e médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira.


Causas

Os revoltosos eram contrários às imposições políticas e administrativas impostas pelo governo regencial. Estavam profundamente insatisfeitos com as nomeações de autoridades para o governo da Bahia, realizadas pelo governo regencial.

O estopim da revolta ocorreu quando o governo regencial decretou recrutamento militar obrigatório para combater a Guerra dos Farrapos, que ocorria no sul do país.

Objetivos

Os revoltosos queriam mais autonomia política e defendiam a instituição do federalismo republicano, sistema que daria mais autonomia política e administrativa às províncias. 

República Bahiense

Com o apoio de vários integrantes do exército, os revoltosos foram para as ruas e tomaram vários quartéis militares. No dia 7 de novembro de 1837, tomaram o poder em Salvador (capital). Decretaram a República Bahiense, que, de acordo com os líderes da revolta, deveria durar até D.Pedro II atingir a maioridade.

Repressão e como terminou

O governo central, sob a regência de regente Feijó, enviou tropas para a região e reprimiu o movimento com força total. A cidade de Salvador foi cercada e retomada. Muita violência foi usada na repressão. Centenas de casas de revoltosos foram queimadas pelas forças militares do governo.

Entre revoltosos e integrantes das forças do governo, ocorreram mais de 2 mil mortes durante a revolta. Mais de 3 mil revoltosos foram presos. Assim, em março de 1838, terminava mais uma rebelião do período regencial.

AS OPORTUNIDADES HISTÓRICAS DO VISCONDE DE MAUÁ

A vida de Irineu Evangelista de Souza foi marcada pelas dificuldades e oportunidades advindas do nascimento de uma nova nação; para retratar a realidade histórica e de que forma este evoluiu no Brasil no âmbito do empreendedorismo, faz um retrocesso por volta dos anos de 1680 e 1777, onde os limites do Sul do Brasil eram disputados entre Espanhóis e Portugueses, e as diferenças eram resolvidas na guerra, ficando a divisa no lugar determinado pelo último combate, até que uma nova investida ou tratado de paz negociado na Europa modificasse a situação. Nesta época, os Portugueses se instalaram às margens do Prata bem em frente a Buenos Aires, os Espanhóis chegaram a tomar a ilha de Santa Catarina, mas nenhum dos dois lados conseguia sacramentar suas vitórias, e a fronteira alterava-se a cada investida bem-sucedida do adversário.
Desde o início, estas terras tinham se mostrado como excelentes criadouros natural de gado, com milhares de cavalos e bois se multiplicando soltos e sem donos, atrativo para aventureiros a busca de riqueza e brigas constantes. A coroa portuguesa, interessada na ocupação do território, distribuía generosamente títulos de terra na zona de litígio (apesar de que a assinatura do Rei naquela região não dizia muita coisa), a maioria dos portugueses eram da região de Açores (super-povoada na época). Em meio a este contexto, em 1792, chegou o avó materno de Irineu Evangelista de Sousa, José Batista de Carvalho, que estabeleceu um rancho numa sesmaria de 4 mil hectares entre o arroios Grande e Chasqueiro a 500km de Montevidéu, logo depois o avó paterno, Manuel Jerônimo.
Em 1810, o pai de Irineu Evangelista, João Evangelista de Ávila e Sousa casou-se com Mariana Batista de Carvalho em 1811, e em 1813 nasceu Irineu. Para manter o crescimento de seus negócios, João Evangelista de Ávila e Sousa, em 1819, saiu em uma excursão ao território uruguaio para a busca de mais gado e foi morto por um tiro (versões pouco claras chegaram para os familiares), ficando sua mãe viúva pela primeira vez com 24 anos. Tentou tocar os negócios e preferiu ensinar Irineu a ler e escrever a ter que fazer os serviços da fazenda, e este aproveitou o conhecimento oferecido pela mãe e logo dominou as letras e mostrou uma predileção pela matemática.
Três anos após a morte do pai, sua mãe casa pela segunda vez com João Jesus e Silva, que não aceitava crianças de um outro pai. A solução foi casar sua irmã Guilhermina, com menos de doze anos com José Machado da Silva e mandar Irineu para o Rio de Janeiro para trabalhar no comércio com um tio seu (por parte de mãe) que tinha o mesmo nome de seu avô.
Nesse contexto iniciou a história do empreendedor, que chegou no Rio com nove anos de idade e foi instalar-se na casa de n°155 da Rua Direita, que era o armazém e a sede dos negócios de João Rodrigues Pereira de Almeida, onde aprendeu todas as funções do armazém, sendo ensinado pelos mais velhos de casa que estranhavam a origem do menino, pois na época raros nativos do Brasil trabalhavam no comércio, sendo esta
profissão exercida por mão-de-obra vinda direta da Metrópole, fato este manipulado pela Coroa, pois evitava que habitantes da colônia controlassem a atividade comercial.
Logo vislumbrou a possibilidade de ser o caixeiro de escritório, tendo que dominar a contabilidade e passar por um exame da Real Junta de Comércio e Navegação, para ser reconhecido pelo patrão, que era de família importante do Sul e Pereira de Almeida negociava charque com ela, seu tio era homem de grande prestígio e respeito por comandar uma Nau de Pereira de Almeida e este último tomava conta de seu armazém bem de perto e conhecia seus funcionários e rendimentos. A empresa era bem prestigiada e estava envolvida em numa série de atividades complexas, negociando simultaneamente com centenas de pessoas nos três continentes. Pereira de Almeida era ao mesmo tempo comerciante, banqueiro, industrial, armador, além de cortesão e manipulador político, trabalhar em uma empresa como esta na época era o objetivo de qualquer caixeiro que quisesse vencer na vida. Com uma frota registrada em seu nome de treze navios, a base de todo o comércio de Pereira de Almeida era o tráfego de escravos a Coroa evitava por todos os meios que os habitantes da Colônia controlassem a atividade comercial, e a disputa entre Portugueses e Brasileiros era intensa. Irineu ascendeu dentro do organograma da empresa de João Rodrigues Pereira de Almeida, e aos quatorze anos tornou-se guarda-livros, responsável por toda escrituração das empresas de Pereira Almeida.
Com menos de cinco anos de experiência e com quatorze anos de idade, Irineu já assumia a complexa rede de negócios do patrão. Por volta de 1828, houve um revés e as coisas mudaram para Pereira de Almeida, pois o tráfico de escravos estava acabando e a guerra com a Argentina, tornando a província Cisplatina no Uruguai(1), levaram o Banco do Brasil a ser um alvo para as perdas governamentais, fazendo com que o comerciante perdesse tudo que tinha, para consolar o Imperador que distribuía títulos de nobreza criados a granel, concedeu-lhe o título de Barão de Ubá, onde foi morrer (1830) em sua fazendo defendida por Irineu junto ao credor escocês Richard Carruthers. Assim, Irineu começou a trabalhar em 1829, Carruthers & CO, uma das maiores empresas de Carruthers, que o incentivou a aprender inglês e contabilidade da forma inglesa (em libras), e teve contatos com a maçonaria.
Diferente dos Portugueses, os Ingleses não misturavam trabalho com a vida particular de seus empregados. Não havia o paternalismo característico dos Portugueses. No novo emprego havia hora para começar e finalizar os trabalhos e a maioria das empresas fechava aos domingos. Irineu aproveitou o tempo livre para se dedicar aos estudos, e encontrou o que precisava na biblioteca do novo patrão. Com o tempo a relação, patrão/empregado mudou para mestre/aluno.
A agressividade dos Ingleses nos negócios, a ênfase ao capital, a confiabilidade Inglesa (2) permitindo ganhar dinheiro com empréstimos a juros, além da “arte” de ganhar com a variação do câmbio (3), foram elementos que influenciaram decisivamente Irineu.
A política mundial da época anterior ao Primeiro Império sofria uma grande influência da Inglaterra e da França que eram as duas maiores potências de então. Esta influência também era sentida dentro da Maçonaria; com a abertura dos portos e com o crescente comércio com os ingleses, o número de Lojas Maçônicas ligadas as Lojas Inglesas aumentou. A ideia de uma república aos moldes franceses, não era interessante para a colônia Inglesa estabelecida no Brasil.
Carruthers foi um maçom ligado as Lojas Inglesas, e através dele Irineu foi iniciado na Maçonaria. Ao ser aceito na Maçonaria, Irineu passou a desfrutar de um maior reconhecimento por parte de seu patrão, logo se destacou dos demais, aprendendo as minúcias do ofício e pela orientação de Carruthers. Leu muitos livros, dentre eles Adam Smith – A Riqueza das Nações - o original em Inglês que aproveitava para discutir com seu patrão.
Após completar 22 anos, Irineu recebeu uma participação no capital da empresa e uma procuração de Carruthers, que lhe deu todos os poderes para administrar os negócios como se a firma fosse apenas dele. Em 25 de Outubro de 1837, Irineu comprou sua primeira casa.
O cenário Nacional continuava complicado, as turbulências do primeiro Império, e a proibição do comércio de escravos, enfraqueceram muitos negociantes Portugueses e Brasileiros, além da própria Coroa, pelo não pagamento de taxas alfandegárias, que era a sua principal fonte de recursos; várias revoltas eclodiam nas províncias (Cabanagem/PA, Balaiada/MA, Sabinada/BA, Carneiradas/PE, Farroupilhas/RS) sempre se repetindo a história: liberais contra conservadores republicanos. Irineu se envolveu em uma destas revoltas fornecendo roupas e dinheiro a revoltosos (na fortaleza de Santa Cruz/RJ) e isto lhe causou problemas em 1839, indo assim visitar seu amigo e sócio Carruthers na Inglaterra a fim de acalmar os problemas. Em sua viagem à Inglaterra, apresentou grande entusiasmo por novidades. Teve como anfitrião um amigo de juventude (João Henrique Reynell de Castro), que contribuiu para abrir o seu caminho da fortuna. Assistiu a inauguração da ferrovia em 1830, entre Liverpool e Manchester, viu que os ingleses produziam fábricas com rapidez, mecanizando assim o desenvolvimento. Também notou que a ferrovia trazia consigo outros negócios (ferros e máquinas), sendo foco dos banqueiros ingleses. Menos de 20 anos depois da inauguração do trecho entre Liverpool e Manchester, havia 10 mil quilômetros de ferrovias na Inglaterra, com um investimento aproximado de 250 milhões de libras esterlinas.
Percorreu fábricas de tecidos, estaleiros, fundições, estradas de ferro e bancos, se mostrava muito interessado em novos conhecimentos empíricos, perguntava sobre tudo e estudava manuais de funcionamento e catálogos, manteve também vários contatos econômicos, estudando os movimentos da época na Grande Potência Inglaterra. Em sua percepção, vislumbrava o desenvolvimento do Brasil e na volta de sua viagem da Inglaterra, abriu a empresa que deveria captar dinheiro na Inglaterra para ser investido no Brasil, visando a modernidade. Apesar da viagem para a Europa, os ânimos dos comerciantes do partido Conservador continuavam os mesmos perante a posição de Irineu e estes publicaram uma carta em 21 de Outubro de 1842, no Jornal do Comércio, com a notícia de que não tinha conexões com os rebeldes do Rio Grande do Sul, que eram os únicos homens em armas que o governo central precisava derrotar para consolidar seu poder. O efeito de tal carta foi devastador perante os amigos, pois a fama de traidor da causa logo se instaurou. Apesar disto, Irineu foi tido como traidor pelos amigos e era mal visto pelos governantes da época.
Em 11 de Agosto de 1846, adquiriu o estabelecimento de fundição e estaleiros da Ponta de Areia em Niterói/RJ. Pensava em transformar a mesma em um estabelecimento de ponta, a moda inglesa, para tanto, teve que trazer a preço de ouro (propriamente dito) trabalhadores ingleses, pois não existia mão de obra qualificada na época, além de ter a regra de que uma pessoa de tez branca, não carregava nada e tinha que sempre ter um escravo que o fizesse. A falta de matéria-prima também o fez pensar fora da caixa, fazendo uma logística (hoje banal), mas que para a época saltava aos olhos, e passou a trazer minério de ferro de Minas Gerais no lombo de burros, importação de carvão, e peças para os defeitos nas máquinas.Firmou um contrato com o ministério do Império para canalizar o rio Maracanã com tubos de ferro, e como é de praxe, o governo não pagava e teve que diversificar a produção fazendo pregos, sinos para igrejas, máquinas de serrar, peças para engenhos de açúcar, guindastes, etc. Passou a aceitar serviços de reparos em navios e montou uma empresa no Rio Grande do Sul para operar um vapor que havia sido construído por ele.
De forma inovadora na época, começou a administrar os funcionários de forma igualitária e distribuía lucros, incentivando que os mesmos abrissem seus próprios negócios ou aumentar o leque de opções (assumia prejuízos). Da mesma fábrica, saíram engenhos de açúcar completos (movidos a vapor), pontes de ferro, canhões de bronze para navios de guerra, navios a vapor completos, fornos siderúrgicos e bombas de sucção.
Em 1849, o Uruguai se viu em sérios problemas, pois nenhum dos países que o subsidiavam queriam continuar a fazê-lo, tendo neste momento o crescimento do temor de invasão Argentina na figura do ditador na época (Juan Manuel de Rosas). O embaixador do Uruguai no Brasil na época (Andrés Lamas) pediu ajuda e o governo viu na figura de Irineu a forma de ajudar sem ser notado. Com isto, Irineu emprestou dinheiro para financiar a guerra contra a Argentina. Em Fevereiro de 1852 o exército de Rosas foi derrotado sem um único tiro, pois acertos monetários foram feitos nos bastidores com comandantes desertores argentinos. Este fato fez com que o governo Uruguaio reconhecesse uma dívida pública junto a Irineu e a partir de 15 de Maio de 1852, ele tornou-se o maior credor do governo Uruguaio e com direito sobre a aduana. Com isto, a
navegação do Rio Prata foi aberta, fluindo o comércio local.
Aproveitando a situação do fechamento do tráfico de escravos e notando um grande valor monetário na praça sem um destino certo, Irineu em 1851, abriu o Banco Commercial, vislumbrando as aplicações em um futuro promissor de progressos intermináveis (fábricas, telégrafos, estradas de ferro). Começou a comprar a moeda nacional (réis) fazendo um câmbio favorável a quem vendia e trocava por libras esterlinas (moeda forte). A corrida ao banco foi muito grande, em pouco tempo estava quase que com toda moeda nacional em seus cofres ao troco da libra. Começou a faltar (réis) para negócios nacionais e ele mais que depressa começou a vender (réis) e comprar (libras), dando primeiro golpe no câmbio. Nessa época, chegou no Brasil informes de que os americanos queriam abrir o Amazonas para livre exploração e navegação, tal fato alarmou as defesas brasileiras e o governo convocou mais uma vez Irineu, propondo que o mesmo abrisse na região norte uma empresa de exploração / navegação do rio Amazonas, explorando assim o comércio dos povoados ribeirinhos muito dispersos, desafio este aceito por ele.
Em 1852, Irineu ganhou a concorrência entre três empresas para fornecer a Iluminação a gás das ruas da cidade do Rio de Janeiro e fundou a empresa Imperial Companhia de navegação a vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis. Ainda neste ano, quatro meses antes do prazo prometido para o governo, começou a funcionar a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas. Em 1853, o dia da queda do gabinete de Itaboraí, Irineu levou um grupo de jornalistas e embaixadores para fazerem uma pequena viagem inaugural, sendo esta a primeira viagem de trem a ser noticiada na história do Brasil.
Foi assim que foi agraciado com o primeiro título de Nobreza – Barão de Mauá, em 30 de Abril de 1854, em cerimônia pomposa com a presença da família Real, quando inaugurou a Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis.
Em 31 de Julho de 1854, três meses após a inauguração da estrada de ferro, o Barão de Mauá inaugurou uma nova forma de Banco, o Banco Internacional a Mauá Mac Gregor & CIA, com a proposta de auxiliar todas as operações na Europa e também fornecer crédito para operações locais, onde iria competir com os financiadores tradicionais (os bancos europeus), criando assim a primeira agência de Câmbio a funcionar em âmbito nacional.
No mesmo ano da inauguração do Banco Internacional Mauá, comprou uma fábrica de velas e sabão de um francês com problemas financeiros. Adquiriu a Companhia Fluminense de Transportes (34 carroças de burro, mais de 100 mulas). Entrou com um aporte técnico em uma concessão para explorar ouro no Maranhão. Também montou uma fábrica de diques flutuantes, sugerido por um de seus funcionários de Ponta de Areia. Em Agosto de 1855, o Barão de Mauá assumiu uma posição de deputado (como suplente) pelo partido Liberal. Nunca compactuou com o discurso amoral que dominava a época (interesse público), colocando-se abertamente como empresário, colecionando derrotas atrás de derrotas nesta área. Com visão de negócios, estabeleceu para seus engenheiros a tarefa de estudarem os caminhos que a nova estrada de ferro ligando o porto de Santos ao interior Paulista, possibilitando assim o escoamento da produção. Em 1856, recebeu a concessão da construção da estrada de ferro. Decorridos 06 anos após o final da guerra no Uruguai, Mauá resolveu transformar seu escritório de representação em Montevidéu numa mistura de empresa comercial e casa bancária.
Em 1857, algumas de suas aquisições não se mostravam lucrativas, entre elas a Companhia Fluminense de Transporte, a Mineradora do Maranhão, a Santos-Jundiaí e a Companhia de diques flutuantes. Além disso, grande incêndio (narrado pela família como criminoso a mando dos ingleses) devastou a fábrica de Ponta de Areia, destruindo moldes da construção de navios. Em 1858 inaugurou mais um Banco, em Buenos Aires, na Argentina, expandindo os negócios do Uruguai. Em 1865 depois de vários percalços, vendeu a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro e passou por sérias dificuldades. Em 1867, criou a Mauá & CIA, uma empresa comercial como nas origens de sua formação, tendo como base a desativação de seu império para saldar dividas e problemas sofridos. Juntou seu numerário e mesmo com a derrocada, possuía no conjunto da obra a quantia de 115 mil contos de réis, equivalente a 12 milhões de libras esterlinas e 60 milhões de dólares.
Em 1874, recebeu uma carta tornando-o o Visconde de Mauá, devido a seu empenho na instalação dos cabos submarinos de telégrafo que ligou o Brasil à Europa. Em 1875, fechou o Banco do Uruguai e foi perseguido pelo povo, perdendo tudo, porém liquidou todos os seus negócios e saldou todas suas dividas, vendendo seus pertences pessoais. Afastou-se da vida pública e morreu completamente esquecido pela sociedade em 21 de outubro de 1889, sendo levado de Petrópolis para ser enterrado no cemitério da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco, em Catumbi, no Rio de Janeiro, sendo o féretro deslocado de trem através dos trilhos da estrada de ferro de sal fundação, The Rio de Janeiro & Northern Railway.
Análise Comparativa do comportamento empreendedor do Barão de Mauá a partir das teorias sobre empreendedorismo
O exemplo do Barão de Mauá retrata sua trajetória como o primeiro grande empreendedor brasileiro numa época adversa, o Brasil no Século XIX. Analisando o contexto histórico do país, observa-se que muito de seu desenvolvimento deve-se a inovação criada por Irineu Evangelista, que aproveitou as oportunidades que teve para trazer ao Brasil conhecimentos e desenvolvimento do capitalismo.
Para Lira (2005), nos dias atuais, a administração possui a disposição uma infinidade de técnicas que visam diminuir ao máximo os riscos de insucesso de um novo negócio. Porém, no século XIX e início do século XX, os únicos meios possíveis de analisar um negócio eram alguns cálculos financeiros e o bom senso. Esta situação fazia com que os riscos, principalmente nos negócios pioneiros, fossem difíceis de mensurar por se tratar de um caminho ainda não percorrido e, portanto, sem parâmetros de comparação.
Embora as pesquisas na área de empreendedorismo constatem diferenças entre aspectos considerados cruciais pelo fato de que as características empreendedoras variam em função da atividade que o empreendedor desenvolve em uma dada época ou de acordo com a fase de crescimento da empresa, a análise histórica mostra Mauá como um ícone da inovação e seu comportamento é embasado pelas teorias do empreendedorismo, sendo seu comportamento distinto a outros empreendedores, que em alguns estudos, são observados como indivíduos que não eram receptivos ao conhecimento.
Observações:
(1) Montevidéu havia sido tomada por ordem do Rei D. João IV, em decorrência dos inúmeros problemas fronteiriços envolvendo os espanhóis divididos em três facções em disputa pelo poder – os fiéis aos Reis Boubon, os fiéis a Bonaparte e os que queriam a implantação da república.
(2) A frase “palavra de Inglês” era famosa e significava promessa rigorosamente cumprida.
(3) Os Ingleses adquiriam libras na entre safra, comprando-as a preço baixo, e as vendiam na época de negociação da safra, momento de alta procura pela moeda, vendendo-as com uma alta margem de lucro.
Bibliografia
CALDEIRA, J. Mauá: O empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LIRA, R. A. O discurso empreendedor e os caminhos do progresso. Perspectivas, Campos dos Goytacazes, v.4, n.8, p.45- 61, julho/dezembro 2005.
TORRES, C. V. Leadership styles norms among Americans and Brazilians: assessing differences using jackson’s return potencial model. San Diego: California Scholl of Professional Psychology, 1999


 

 

 

 

NEGROS; IMIGRANTES E MULHERES NO SEGUNDO REINADO


 

 O século XIX foi marcado por um conflito tácito de direitos e consolidações de tais, a escravidão era pauta de discussões acaloradas por estudantes que retornavam da Europa e não se conformavam em ver esse “atraso social”, enquanto o mundo desatava-se da escravidão, o Brasil continuava a insistir sua produção com base escravista, e sofria pressões dos liberalistas ingleses. Mas o Direito em si estava mesmo atado nas mãos dos grandes latifundiários e pessoas com recursos para obter tal acesso, os imigrantes que chegavam aos portos sem um centavo no bolso eram obrigados a se submeterem a leis paralelas, as dos “coronéis” assim como toda gama de pessoas que dependiam de grandes donos de terras para sobreviverem, juntamente com a ilustração da mulher da época, confirma-se a mudança de pensamento sobre direitos naquela época. Todos esses direitos passam por um cenário de uma guerra perdulária nas fronteiras brasileiras e uma monarquia em descrédito.
1. Escravos
1.1 Processo Abolicionista no Segundo Reinado
Para que conheçamos a situação escravista no segundo reinado se faz necessário fazer uma análise de algumas leis de caráter abolicionistas da época e ver suas implicações dentro do sistema escravocrata. Dentro da configuração social da época e suas influências no processo abolicionista, conseguimos ver a relação entre Brasil e Inglaterra, relação essa que vai desencadear as primeiras pressões para as leis liberais abolicionistas. O Brasil devia a Inglaterra dois milhões de libras esterlinas, de empréstimo feito pelo governo brasileiro para pagar Portugal, condição imposta pelos lusitanos para reconhecer a independência; essas relações econômicas (é importante ressaltar a importância econômica de importação e exportação inglesa para o Brasil) entre Brasil e Inglaterra, davam aos Ingleses certas prerrogativas tácitas de influência no território brasileiro.
Entre as pressões inglesas a mais relevante é as relativas à mão de obra brasileira (escrava). Resultando em uma lei brasileira em 1831 (Lei Feijó) que proibia o tráfico de escravos para o Brasil, que ficou mais conhecida com “lei para inglês ver”, porque apesar de aprovada a lei não possuía nenhuma efetividade na prática, e o tráfico negreiro descambou até 1845.
Em 1845 foi tomada uma primeira medida contra o tráfico negreiro, o Aberdeen Act, uma lei inglesa e não brasileira que tomava medidas “extremas” contra o tráfico negreiro, segundo a lei todo navio que estivessem fazendo tráfico de escravos para as Américas, interceptados pelas canhoneiras inglesas poderia ser abatido (afundado), e muitos foram.
Pode-se entender as pressões abolicionistas a partir de um ex-rico traficante de escravos, Cerqueira Lima que vai a falência após ter um de seus navios negreiros apreendidos pelo governo inglês.[1] O tema escravidão no
segundo reinado começa a se tornar um transtorno social e político para o governo; quanto mais se adentra ao Brasil oitocentista, mais se complica a situação escravagista.
Evidentemente as sociedades escravagistas, incluindo as do sul, estavam com os dias contados. Nenhuma delas sobreviveu ao período de 1848 a 1890 – nem mesmo Cuba e Brasil.[2] Existia a tendência abolicionista em todo o mundo, mas especialmente aqui no Brasil a escravidão começou a torna-se onerosa, após a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que abolia agora definitivamente (e não mais somente “para inglês ver”) o tráfico negreiro. A lei proporcionou um aumento no preço dos escravos (já que começou a diminuir a oferta no mercado negreiro) e conseqüentemente um declínio da migração africana para o Brasil. Outro fator como a insubordinação dos escravos começou a onerar o sistema escravista.
Diversos autores têm enfatizado que o custo da vigilância e disciplinarização dos cativos tornou-se extremamente elevado, após 1850. É complicado provar um aumento da violência dos cativos, para além da paranóia senhorial, no contexto do que se chamou na época de “onda negra”. Não é, entretanto, o número de atentados violentos a senhores e feitores que deve ser contabilizado, mas a mudança de postura no discurso que os cativos apresentaram nessas ocasiões.[3]
Hebe M. Mattos de Castro discursa sobre essa inflexão:
Inconvenientes aos escravagistas se assomavam ao cenário pós 1850, como a Lei do Ventre Livre, que já prenunciava uma abolição iminente; os números de processos relativos a essas leis abolicionistas eram crescentes. Entre 1850 e a aprovação da Lei do Ventre Livre (1871), o número de Ações de Liberdade movidas por escravos contra seus senhores na Corte de Apelação no Rio quase triplicou em relação às décadas anteriores, reunindo 194 processos e envolvendo 736 cativos.[4]
Temos que nos ater aqui as mudanças sócias e de pensamento da época, a barbárie pública e esdrúxula do começo da escravidão no Brasil, já não era bem vista no Brasil Império.
Na verdade, são sinais dos tempos modernos: Na década de 1870, não era mais de “bom tom” anunciar violências “domésticas” para o mundo.[5]
Essa “moral” que era implícita na época pode ser vista no tratamento dos escravos por seus senhores ao negociá-los, procurando não separar o núcleo familiar do escravo, mas a quem diga que essa era mais uma estratégia do senhor do que uma questão de humanidade.
Em suma, a família escrava transformava os cativos em “reféns”, tanto de seus próprios anseios quanto do proprietário. Os senhores certamente sabiam disso quando refletiam sobre os ditames da “humanidade” e da “boa razão”.[6] Por outro lado, a ameaça da separação sempre existia, pelo menos até 1869-71, quando leis nacionais proibiram a prática restringindo afinal esse abuso do poder privado.[7]
Lilia Moritz Schwarcz define essas correntes de acontecimentos:
Uma breve olhada na “agenda” de fatos é suficiente para se ter uma idéia da situação: em 1880 funda-se a Sociedade Brasileira contra a Escravidão e em 1883 a Confederação Abolicionista. Também nesse ano castro Alves publica Os escravos e Joaquim Nabuco O abolicionismo, obras cujos autores eram líderes do movimento de emancipação e que passaram a ser – na literatura e na ciência política – livros de referência sobre o assunto. Em 1884 a escravidão é extinta no Ceará e no Amazonas, e em 28 de setembro de 1885 se promulga a Lei Saraiva Cotegipe – que dava liberdade aos escravos com mais de sessenta anos, mas garantia seus trabalhos por mais três anos –, apenas acirrando os ânimos. O processo de abolição concretizava-se, dessa forma, pelos extremos: primeiro os recém-nascidos e agora os idosos.[8]
Para melhor esclarecimento do processo abolicionista, não existe algo melhor que uma exemplificação da
época: em 1872, por exemplo, a escrava Francelina foi acusada de matar sua proprietária por envenenamento. Os vizinhos livres testemunharam a favor dela, dizendo que a moça era muito maltratada pela senhora morta. Francelina foi absolvida pela justiça.[9] É possível ver nessa história a defesa de Francelina por vizinhos que se apiedaram dela, mas mais que isso podemos ver que as antigas barbáries da escravidão não eram mais suportadas.
Flávia Langes de Castro fala sobre a atmosfera antes da abolição:
Os abolicionistas cresciam em número, o movimento se agigantava no país, mas o golpe de misericórdia veio mesmo dos próprios escravos (em uma mudança de postura) que, com auxílio dos abolicionistas, começaram a abandonar as fazendas causando o caos no trabalho e tornado a situação insustentável. O desespero tomou conta dos escravistas que em vão tentaram incluir o exército no combate as fugas e rebeliões. A saída era única: a abolição, muitos fazendeiros que haviam lutado contra a emancipação também viram isto.[10]
Todos esses acontecimentos levaram indelevelmente à Lei Áurea, aprovada em 13 de maio 1888, pela Princesa Isabel, que era a regente na ausência de D. Pedro II, aboliu a escravidão.
1.2 A Situação Geral do Escravo No Segundo Reinado
Novas teorias classificatórias do gênero humano entram em cena no século XIX. O poligenismo ganhara suporte científico (pelo menos assim definido na época), na seqüência das descobertas da paleontologia oitocentista, ao propor, contra o monogenismo bíblico, a idéia de que as raças contemporâneas proviam de troncos originalmente distintos do gênero humano.[11] É sobre esses conceitos que no século XIX passasse a analisar o escravo, e é desse conceito que deriva agora a justificação escravista e a situação do escravo dentro da sociedade.
Vamos dividir aqui em três partes essa analise da situação social do escravo, o convívio em grupo, a educação e a saúde. Para maior entendimento comecemos pela saúde, é comezinho que a vida do escravo não tinha grande importância, mas a vida do escravo era vista como um investimento, ou seja, sua importância limitava-se a quantidade de riqueza que o escravo produziria para pagar a sua existência e a onerosidade de sua compra. Mas as vezes tamanho era o descasos com a vida dos escravos que ficava evidente a crueldade, algumas vezes em prol de pesquisas cientificas se sacrificava a saúde e a vida dos negros, em uma espécie de “eugenia” do século XIX.
Um médico chamado Doutor Santos publicou em 1838, na Revista Médica Fluminense, os resultados de uma experiência inédita: fez uma cascavel picar um negro leproso para estudar os efeitos do veneno da cobra na evolução da doença. Mas o experimento fracassou porque o doente morreu em vinte e quatro horas.[12] O completo descaso neste caso se dá porque o negro, leproso, já não tinha muita utilidade, perdera seu valor.
Uma alimentação pobre, aliada a senzalas sujas já era o suficiente para uma manifestação de doenças, mas em escravos de ganho o problema era a pandemia mundial de cólera (1830-2).
A cólera acometia principalmente as pessoas mais modestas, mal instaladas: os escravos e os proletários portugueses que começavam a sair para a corte.[13] A principal medida profilática era o uso de calçados, mas isso nos escravos de ganho em especial era um impasse, pois a ausência de calçado do negro explicitava sua situação de cativo e o diferenciava do negro ou mulato liberto, nas duas opções o senhor de escravo correria o risco de perdê-lo.
A educação do escravo era rara, ou melhor, quase que inexistente; mas certo letramento por parte dos escravos era visto com receio pela sociedade da época.
Fabrício, o estudante de medicina carioca, personagem do romance de Joaquim Manuel de Macedo, dono de fala escorreita: “o maldito do crioulo era um clássico a falar português.”[14] Manter o negro ignorante era vital para famílias e senhores que queria guardar segredos, pois se levando em conta que o principal meio de
comunicação era a fala e a escrita, no século XIX um cativo que sabe ler poderia levar vantagem sobre o seu senhor.
Quanto ao convívio em grupo, podemos nos ater aos próprios cativos, podemos dentro dessas relações citar vários casos de contendas entre os escravos, mas o que prevalecia era ajuda mútua devido as condições.
Sem dúvida, havia tensões na comunidade cativa, por exemplo, entre africanos e crioulos e entre campineiros e brasileiros de outras origens, trazidos pelo tráfico interno após 1850.[15]15 A existência de diferenças étnicas e culturais entre a própria população cativa é evidente, vê-se ai a Revolta dos Malês, que foi uma insurreição de teor abolicionista (em parte, pois os revoltosos só libertariam os de origem mulçumana) de escravos mulçumanos em Salvador. Os escravos mulçumanos caracterizavam os outros como inferiores, pois a divergência cultural nesse caso se fez extenuante, e achavam que aqueles que não partilhavam de suas etnias deviam continuar cativos.
Para maior entendimento da situação dos cativos no segundo reinado, é preciso entender sua participação na guerra do Paraguai. Segundo Leandro Narloch:
Os escravos formavam a linha de frente de várias tropas e eram os primeiros a morrer. No lado brasileiro, os negros eram 5% do Exército em 1868. Após essa data, o alistamento aumentou, mas dificilmente passou de 20% do total de soldados. O mais importante é que, depois da guerra, a escravidão não seria mais a mesma. Os escravos que sobreviveram à guerra engrossaram a fatia dos escravos livres, o que pesava a favor da abolição. Em 1889, quando a escravidão acabou, aproximadamente 95% dos negros já estavam livres.[16]
Após o fim da escravidão a situação do negro, agora livre, pode ser compreendida pela transcrição que define um pouco esse day after 1888; é uma poesia publicada no jornal O Monitor Campista em 28/03/1888:
"Fui ver pretos na cidade
que quisessem trabalhar.
Falei com esta humildade
- Negros, querem trabalhar?
Olharam-me de soslaio,
E um deles, feio, cambaio,
Respondeu-me arfando o peito:
- Negro, não há mais não.
Nós tudo hoje é cidadão.
O branco que vá pro eito."[17]
Mas essa cidadania era real? Mas quanto a essa “cidadania” reclamada pelo negro no poema podemos levar em conta a definição de Hebe M. Mattos de Castro:
O que significa, porém, essa cidadania? Quais os sentimentos da liberdade? Politicamente, ela era uma farsa, mesmo para os “cidadãos ativos”. Em termos civis, garantia as liberdades clássicas (de ir e vir, o direito à família, à propriedade, etc.), bem como a liberdade de opinião e a integridade física, quando proibia a tortura e o castigo infamante. Qual, entretanto, o significado real de tais garantias para os “cidadãos passivos”, em face do poder privado dos potentados rurais?[18]
Como vimos a cidadania era subordinada pré e pós abolição aos citados “potentados rurais” (grandes proprietários e agricultores); sendo assim mesmo com o Direito positivado da época, era impossível o fazer valer sem que esse passasse pelo escrutínio dos “barões e coronéis”, em seus “feudos”. Em suma o poder da lei e o policial continuavam nas mãos dos ricos fazendeiros (inclusive no interior) até após o período escravista e por toda antiga república.
2. Os Imigrantes
Vamos ver aqui a emigração européia e oriental, é evidente que no Brasil Império desembarcou pessoas
provenientes dos lugares mais variados ao redor do mundo, mas a principal concentração é o que aqui importa.
A condição social do imigrante que chegava ao Brasil era de início precário, além da insuficiência financeira (pelo menos da maioria), podemos adicionar a falta de estrutura do governo brasileiro ao aporte desses imigrantes.
Alimentava-se uma “falsa realidade” no imaginário do candidato à imigração.[19] As promessas feitas aos imigrantes em seus países eram na maioria “falsas” ou “maquiava-se a verdade”. Mas fazia necessária medidas migratórias do governo.
A escravidão estava com os anos contados, expectativa muito favorável à nascente política imigratória nacional, levado a cabo desde o inicio pelas oligarquias paulistas.[20] As nacionalidades que desembarcavam eram as das mais diversas, mas há de se ressaltar que umas afluíam mais que outras.
Os africanos, portugueses e alemães ocupavam as três primeira posições no contingente estrangeiro.[21] Os alemães talvez mereça uma melhor atenção no estudo já que faziam a maior parte do contingente imigratório europeu (fora os portugueses), vinham esses teutônicos ao Brasil em busca de oportunidade e principalmente terras.
Emigrar surgia como a única alternativa para um dia se realizar o sonho de ser proprietário de um pedaço de chão.[22] De fato, a mentalidade com que todos vieram começar a vida no Brasil era de que ninguém trabalharia para os outros, para os grandes proprietários, e todos ansiavam pela sua autonomia econômica.[23] Pensamento esse que logo entrou em conflito com os senhores proprietários de grandes terras produtoras, que só procuravam nos imigrantes meios para suprir a mão de obra escrava, que depois de 1850 se tornava escassa e cara, alem da Lei das Terras (1850) que dificultava o acesso mais ainda aos que chegavam ao país, nos tornando um país de latifundiários.
Logo começaram a surgir os conflitos, que pode ser bem relatada nas palavras de Robert W. Slenes:
A prepotência dos senhores e seu afã de transformar trabalhadores em dependentes sobrevivem à substituição de escravos por imigrantes. O contraponto entre proprietários e “colonos” no final do século XIX guarda certas semelhanças com aqueles entre senhores e escravos, ainda que expresse também as novas relações de trabalho.[24]
As dificuldades de lidar com o povo proveniente de países europeus por parte dos senhores que estavam acostumados a tratar seu subordinados da “maneira escrava” não parecia permear entre os colonos europeus.
Quando chegaram os imigrantes, pelo menos alguns fazendeiros tentaram alojá-los em antigas senzalas. Os colonos, no entanto, não gostaram do plano arquitetônico, semelhante ao de uma cadeia, e insistiram em mudanças.[25] É natural esperar essa inflexão dos imigrantes ante a política de servidão imposta pelos senhores, tanto pelo modo como eles eram educados até a manutenção de suas culturas.
Havia entre os imigrantes uma viva consciência da importância do livro e da leitura, mais ainda entre os luteranos, educados na prática constante da leitura da Bíblia.[26] Era de se esperar que onde um nível cultural, e até mesmo intelectual, permeie não haveria uma servidão cega sem antes uma argumentação.
O olhar do restante da comunidade brasileira sobre esses novos “cidadãos” vindos da Europa era de certa estranheza e curiosidade, principalmente os alemães.
Luís Augusto Fisher fala sobre o olhar brasileiro sobre o povo alemão de uma maneira bem humorada, retratando como era a imagem do alemão no império:
Mais ainda, os alemães eram vistos com reservas pela população em geral: além de trabalharem tanto quanto os negros escravos, eram luteranos num país que na prática não permitia nenhuma ascensão a quem não fosse católico. Isso sem falar no fato que as mulheres dessa etnia sabiam ler e tinham um desembaraço que as tornava, aos olhos luso-brasileiros, extraordinariamente livres, a ponto de terem relações sexuais antes de casar![27]
Não podemos deixar de notar que a introdução de etnias com um ideal de liberdade mais exacerbado do que os próprios luso-brasileiros, influenciaria os rumos do Brasil que entraria na república; já que muitos desses imigrantes enriqueceram.
Como o industrial Hermann Hering, que relata essa facilidade de estabilização econômica do imigrante em uma carta: “Todo imigrante, sem ser doente, nem mendigo, três ou quatro anos após a sua chegada assume status social médio da concepção alemã”.[28]
Mas a insistência do patrão em sublevar o imigrante permanece evidente em alguns documentos da época.
Robert W. Slenes cita um desses documentos em que foi preso um colono chamado Guilherme Schmidt:
Em 1872, esse Schmidt foi preso a pedido do administrador da fazenda onde estava empregado por haver rompido seu contrato de trabalho. Além de ser acusado de não cuidar bem dos cafezais, ele e outros colonos “vão ao Amparo e voltam quantas vezes querem sem pedir licença, quer ser um dia santo ou um dia da semana”.[29]
Warren Dean trata em um de seus livros sobre a relação entre empregado e senhor do século XIX, falando ser usual o fazendeiro distribuir aos colonos o mesmo trato dado aos escravos.[30] Mas como já foi visto isso não era tão fácil como antes do inicio das leis abolicionistas.
3. Mulheres
A idéia de que a organização política das sociedades humanas resulta de uma convenção ou contrato entre seus membros surge a partir do século XVIII e se opõe à antiga maneira de conceber essa organização como resultante de um processo cujas diretrizes (naturais ou teológicas) estariam dadas além ou acima dos participantes. Pelas doutrinas do contrato, a ordem da política é separada da ordem da Natureza e passa à esfera da decisão humana: o homem, munido de sua razão, suas luzes e seu conhecimento assume, para o bem ou para o mal, o comando de seu destino.
Uma das preocupações do "século das luzes" era pensar a diferença feminina, diferença sempre marcada pela inferioridade. Trata-se de conferir ás mulheres apenas papéis sociais: esposa, mãe, dona de casa. É por essa função doméstica que a mulher pode, de algum modo, ser cidadã. Mas cidadã sem a competência para se envolver em política, cuja análise só poderia estar ao alcance dos homens. Podemos dizer que a ideologia mais representativa do século XVIII consiste em considerar que o homem é a causa final da mulher.
Após a Revolução Francesa, o pensamento sobre os direitos dos homens começou a ser discutido com maior intensidade nos meios filosóficos, e conseqüentemente, os Estados passaram a sofrer intervenções em favor destes direitos. A sociedade passava a exigir novos conceitos de liberdade.
[...] justamente porque os seres humanos vivem em sociedade e porque as decisões políticas sempre se refletem sobre a vida e os interesses de todos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos considera a participação política um direito fundamental de todos os indivíduos. (DALARI, 1984, p.26). Se for contra a natureza uns nascerem ricos e outros pobres, mais terrível é estabelecer que não se respeite a igualdade de direitos de um indivíduo apenas por ser de sexo diferente. E esse respeito é culturalmente perfeitamente explicado.
A mulher por muitos anos teve uma educação diferenciada da educação dada ao homem. Era educada para
servir, enquanto o homem era educado para assumir a posição de senhor todo poderoso. Quando solteira vivia sob a dominação do pai ou do irmão mais velho, ao casar-se, o pai transmitia todos os seus direitos ao marido, submetendo a mulher à autoridade deste. A mulher nada mais era do que um objeto. Em algumas culturas o marido podia escolher o próximo marido de sua mulher em caso de morte; em outras, com a morte do marido, matavam-na e enterravam-na a fim de continuar servindo-o no outro mundo. O próprio Direito Romano, berço da nossa cultura jurídica, já desprovia a mulher de capacidade jurídica. A religião era prerrogativa masculina da qual a mulher somente participaria com a autorização do pai ou do marido.
Também o parentesco só se transmitia pelos homens, apenas por razões genéticas o impedimento matrimonial relativo à mulher era evocado.
Não devemos crer que sua participação na História tenha sido menor ou até mesmo nula, tendo como comparação os homens (aqueles que sempre tiveram o poder de fabricar tais documentos). A mulher, assim como o homem, tem a sua historia e, conseqüentemente, seu papel como agente histórico. Entretanto, a compreensão da mulher envolve o entendimento das representações sociais aos quais esteve historicamente relacionada. São muitas as facetas que recobriram a mulher ao longo dos tempos: excluída da cidadania na Atenas dos tempos de Aristóteles, Platão e Sócrates, satanizada durante a Idade Média, tratada como feiticeira e bruxa por mais alguns séculos, bem como tida na sociedade burguesa do século XIX como mãe (simbolizando a Virgem Maria, pura e ideal, dona-de-casa, a subordinada e fiel) e/ou como louca, sanguínea, rebelde, infiel, mentirosa, mulher-fogo, entre outras.(MELLO,2004, P.12).
No entendimento de Mello, ao longo da História, inúmeras foram as mulheres que se mantiveram distantes dos padrões de comportamento considerados "normais" ou "comuns" por parte de uma elite social normativa e conservadora representada pelos homens. E entendemos, também, como fora desta sociedade as mulheres que lutavam por reivindicações de sua inclusão política.
Com o surgimento da revolução industrial, inicia-se um processo reivindicatório por melhores condições sociais. O século XIX se caracterizou por duas frentes de luta do operariado: a luta por melhores condições de trabalho (salário, redução da jornada, repouso semanal, condições de higiene), e a luta pelos direitos de cidadania. Neste primeiro momento, mesmo que houvesse a busca pelo sufrágio universal e a ampliação dos direitos da democracia, a mulher, entretanto, não estava incluída neste movimento. A conquista do direito ao voto feminino necessitou de lutas especificas, abrangendo mulheres de todas as classes sociais. (ALVES, 1991, p.42)
No Brasil colônia, a Igreja deu inicio à educação, no entanto, a instrução ministrada por ela não incluía as mulheres. Na educação católica deste período, a mulher devia obediência cega não só ao pai e o marido como também a religião. Conseqüentemente a mulher vivia enclausurada sem contato com o mundo exterior. Os dois centros principais de sua vida eram o lar e a igreja. A toda poderosa Igreja exercia forte pressão sobre o adestramento da sexualidade feminina. O fundamento escolhido para justificar a repressão da mulher era simples: o homem era superior, e, portanto cabia a ele exercer a autoridade. A justificativa estava baseada na Epístola aos Efésios, de São Paulo: as mulheres deveriam se sujeitar aos seus maridos como ao Senhor, pois este seria a cabeça da mulher, assim, como Cristo era a cabeça da Igreja (ARAÚJO, 2004. p.46). À mulher não era permitido estudar e aprender a ler. Nas escolas somente eram ensinadas técnicas manuais e domésticas.Esta ignorância era imposta como forma de mantê-la subjugada desprovendo-a de conhecimentos que lhe permitissem pensar em igualdade de direitos. Era educada para sentir-se feliz como: "mero objeto", porquanto, só conhecia obrigações.
Com a Constituição de 1824, surgiram escolas destinadas à educação da mulher, mas, ainda, voltada aos trabalhos manuais domésticos e cânticos. Ainda era veladamente vedado às mulheres freqüentarem escolas masculinas. Nos versos abaixo, do poeta Gregório de Matos, é colocado o ponto de vista do marido que fala de uma noiva depois de casada:
Irá mui poucas vezes à janela,
Mas as mais que puder irá à panela;
Ponha-se na almofada até o jantar,
E tanto há de coser como há de assar.
O respeito ao pai, depois ao marido, além de uma educação dirigida para os afazeres domésticos que eram ministrados pelas próprias mães e madrinhas. Patriarcal é aquela estrutura familiar que não somente identifica o individuo pela origem paterna, mas ainda dá ao homem o direito prioritário sobre o filho e um poder sobre a pessoa de sua esposa.
Com a implantação do regime republicano brasileiro, veio o Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, que manteve o domínio patriarcal, no entanto, de forma mais "suave" quando dispôs sobre o casamento civil e retirou do marido o direito de impor castigo corpóreo à mulher e aos filhos. Este decreto, de certa forma, incentiva as feministas às lutas pela sua emancipação. Em meados do século XIX já é possível verificar a existência de grupos isolados de mulheres lideradas por Josefina Alves de Azevedo e Nísia Floresta Brasileira Augusta, que atuavam em função da emancipação da mulher.
Embora o desejo de emancipação ganhasse corpo em quase todos os recantos do Brasil, ainda encontrava uma barreira fortíssima a ser transposta: o Sistema Patriarcal.
As meninas criadas em ambiente rigorosamente patriarcal viveram sob a mais dura tirania dos pais – depois substituída pela tirania dos maridos (FREIRE, 1975, p. 173).
Corre a missa. De repente, uma troca de olhares, um rápido desvio do rosto, o coração aflito, a respiração arfante, o desejo abrasa o corpo. Que fazer? Acompanhada dos pais, cercada de irmãos e criadas, nada podia fazer, exceto esperar. Esperar que o belo rapaz fosse bem-intencionado, que tomasse a iniciativa da corte e se comportasse de acordo com as regras da moral e dos bons costumes, sob o indispensável consentimento paterno e aos olhos atentos de uma tia ou de uma criada de confiança (de seu pai, naturalmente). (ARAÚJO, 2004, p.45).
Segundo o texto, é possível verificar o quanto o sistema patriarcal era rígido e causava reflexo direto na política. O domínio do pai sobre sua prole era sentido em todos os movimentos da família, os mínimos gestos eram notados e se não estivessem de acordo com as normas rígidas estabelecidas, eram imediatamente repreendidas, quando não punidas fisicamente. O pátrio poder era exercido em sua plenitude.
A mulher deveria agir mais especialmente sobre os seus filhos, maridos e pais. Precisava conhecer a todos profundamente; suas necessidades e seus desejos.
Logo após a Proclamação da República, foram organizados no país grupos de mulheres com o objetivo de conquistar seu direito ao voto.
Ainda que o feminismo político da época não houvesse se limitado apenas ao sufragismo, esta foi sua principal tendência e o que provocou as reações mais violentas por parte dos opositores. Através de jornais, da literatura e dos visitantes vindos da Europa, construíam-se neste momento, novos papéis para as mulheres, outrora restritos as funções familiares e domésticas, como vimos no capítulo anterior. Embora o papel de mãe fosse evidenciado, uma nova mulher surgia com objetivos diferentes daqueles até então conhecidos. Era a construção de uma nova mulher e de uma família renovada. E para isso contribuiria o Positivismo Republicano que considerava a mulher intelectualmente não inferior ao homem, mas sim, que sua inteligência era complementar à do homem.
As mulheres no final do século XIX e inicio do século XX passaram a marcar presença em cafés, bailes, teatros e em certos acontecimentos sociais. Se agora elas sentiam-se mais livres, demonstrando suas emoções, entretanto, seus passos ainda eram vigiados por pais, maridos e agora a própria sociedade que mantinha os olhos atentos sobre elas. Como resultado da agitação republicana de 1889, surgiu a possibilidade de uma estrutura política mais fluida e aberta e, com extensão do voto, em teoria, a todos os homens alfabetizados, a
questão do sufrágio pôde tornar-se um tópico mais vital para as feministas cultas que experimentavam um sentimento de frustração e privação e privação política (HAHNER, 1981, p. 80). Essas mulheres tiveram que aprender a comportar-se em público, a conviver em sociedade de maneira educada.
A partir do século XX, desde o seu princípio mostrará uma nova tendência às lutas sociais no Brasil.
O caráter urbano passa a ter tonalidade própria, criada a partir de uma problemática que advém das novas funções que passa a se concentrar nas cidades. Progressivamente a indústria, e as classes sociais que lhes são caudatárias, orientará as ações e os conflitos que ocorrem no meio urbano (GOHN, 2001, p.59)
As mulheres ganharam destaque nas atividades culturais e sócio-beneficentes na elite brasileira. De educadoras e mães passaram, também, a serem transmissoras de cultura, a figurarem como empreendedoras de movimentos de conquistas femininas.
Ainda sobre a Assembléia Constituinte de 1891, escreve (LEITE, 1984, p.63): O voto feminino havia sido discutido na Assembléia Constituinte de 1891, sendo considerado o caminho da dissolução da família brasileira, pois, para a maioria dos deputados dessa assembléia, era indiscutível e inapelável o papel da mulher no lar, família. E o sufrágio feminino parecia-lhes uma ousadia anti-social.
Quando a autora diz que o voto feminino havia sido discutido na Assembléia de 1891, composta essencialmente por homens, fica evidente a participação masculina na vontade de colocar a mulher no processo eleitoral. Somente um deles poderia ter proposto tal discussão. Pelo menos um homem era favorável à conquista política feminina.
No Brasil, o movimento reivindicatório feminista tem inicio com um artigo publicado na seção intitulada "Entre Amigas", do primeiro número de A Mensageira, Revista Literaria dedicada à Mulher Brazileira, datado de 15/10/1897, onde a escritora Julia Lopes de Almeida declara que o movimento feminista começava a conquistar grandes avanços, no Brasil, fato que provava, segundo sua argumentação, que a mulher estava mais consciente de suas necessidades e ambições, demonstrando, dessa forma, disposição para participar mais ativamente da vida em sociedade. A autora considera, ainda, que deveria haver, por parte das mulheres, uma real conscientização de que uma mudança de comportamento reverteria em benefício não meramente pessoal, mas da própria família e, conseqüentemente, da sociedade a qual pertencessem. A necessidade de aprimoramento intelectual estaria, em tese, diretamente vinculada ao aperfeiçoamento moral das mulheres e a necessidades de ordem prática voltadas "para as vicissitudes da vida", como, por exemplo, a habilitação para uma profissão que as amparasse em situações emergenciais. Para ilustrar esse argumento, a escritora refere-se a outros povos "mais fortes, mais practicos, mais activos e mais felizes" dos quais as mulheres, consideradas a partir de seu importante valor social, já não figuram como "mero objecto de ornamento". (ALMEIDA, 1997, pp. 3-5).
É interessante como a autora do texto percebe como a autora do texto chama a atenção das mulheres sobre a importância da cultura intelectual das mulheres para a entronização na sociedade. A valorização social da mulher deveria passar antes pela sua própria vontade de reivindicar e, posteriormente, sua disposição de informar-se, de tornar-se culta, aí sim poderia participar do processo político. Depreende-se, pelo texto, que Almeida já sentia a ambição por parte das mulheres em participar das decisões políticas. Desperta a nossa atenção, o sentido de chamamento à participação das mulheres na política, até como forma delas deixarem de ser subservientes ao homem.
Nas democracias, os dirigentes políticos do povo devem ser eleitos por um número de eleitores que representem a maioria dos inscritos, [...] um governo democrático seria impensável se não fosse estendida a todos os cidadãos a oportunidade de influenciar as políticas públicas e/ ou a seleção daqueles que as decidem e a executam. O caráter democrático pressupõe ainda que a participação política é sinal seguro de saúde num sistema político. Os cidadãos não devem meramente contar com igual oportunidade de participação significativa: eles devem participar de fato (LA PALOMBARA, 1982, P.389).
Segundo o autor, não há possibilidade de existir democracia plena se não houver liberdade de escolha de seus dirigentes. O exercício do voto faz parte do processo de cidadania. Abrir a possibilidade de voto às mulheres seria admitir-lhes a capacidade de pensar os rumos políticos da nação e de exercer atividades de cunho público, campo destinado apenas aos homens. Pelos relatos apresentados, depreende-se que durante as reuniões em que se discutiam assuntos políticos, as mulheres eram colocadas ao lado, igual ao que os pais faziam com as crianças há cerca de três ou quatro décadas atrás quando o assunto era para "maiores".
Mas o jornalismo mais avançado foi sem dúvida aquele expresso pelo semanário O Sexo Feminino dirigido por Francisca Senhorinha da Motta Diniz. Em vez de apelar aos homens, como fizeram suas antecessoras a fim de ganhar espaço e talvez convence-los, Francisca dirigiu-se diretamente às mulheres, para que tomassem consciência de sua identidade e seus direitos(TELES, 1993, p.34).
Esta senhora defendia a idéia de que a dependência econômica, juntamente com a falta de instrução estudantil levava a sujeição feminina, e que a mulher só poderia ter elevado seu status por meio da educação.
O primeiro censo demográfico brasileiro oficial foi realizado em 1872, determinado pelo decreto nº 4.856, de 30 de dezembro de 1871, manda proceder ao primeiro recenseamento da população do Império e baixa o respectivo regulamento. Os dados "estatísticos" mostravam que as mulheres alfabetizadas no Rio de Janeiro eram 29,3%, e as alfabetizadas no interior do Brasil eram 11,5%. Por estes dados, mesmos que auferidos com pouco rigor cientifico, demonstrava a dificuldade encontrada pelas mulheres em adquirir cultura e educação estudantil.
Surpreende o viés urbano da classificação usada no censo, já que o Império tinha características econômicas típicas de um país essencialmente agrícola. Depreendemos que o meio rural era de pouca importância para o Império, pelo menos, quanto à população, já que seus "coronéis" e outros apaniguados do poder central tinham, no mínimo, o respeito (reciprocidade de interesses) do Imperador.
O movimento feminista nunca foi um fenômeno de massas. As reivindicações partiram de grupos isolados, que chamaram a atenção das demais mulheres. Não sem percalços. Tudo o que parece hoje muito natural foi tabu no passado, derrubado por pioneiras que gravaram seus nomes na história dos direitos civis( SCAVONE, 2000).
Sem se intimidar com as campanhas anti-sufragistas que se encontravam em todas as partes, surge no Rio de Janeiro, em 1910, o Partido Republicano Feminino fundado pela professora Deolinda Daltro. O partido tinha como objetivo ressuscitar no Congresso Nacional o debate sobre o voto da mulher, que havia sido abandonado desde a Assembléia de 1891, projeto do maçom, Joaquim Saldanha Marinho que foi intensamente combatido entre os políticos. Sete anos após sua fundação, em 1917, o Partido Republicano Feminino chegou a organizar uma passeata na capital do país a fim de reivindicar o direito ao voto feminino. Ainda que este direito não fosse conquistado naquele ano, obteve-se outra conquista no campo do trabalho, a mulher brasileira passou a ser aceita no serviço público do Brasil.
No ano de 1919, outro passo significativo em prol do sufrágio universal, no Brasil, foi dado com a criação da Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher que, no ano de 1922, acabou por se transformar na Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Ainda em 1921, a campanha pelo voto feminino começava a ganhar expressão no cenário político brasileiro. Bertha Lutz, em entrevista ao Jornal Imparcial, fala sobre a apresentação de uma emenda, de autoria dos deputados Bitencourt Filho e Nogueira Filho para inserção do voto feminino na Constituição. Lutz cita exemplos de outros países onde as mulheres tinham os mesmos direitos políticos dos homens: Finlândia, um dos primeiros países a estabelecer o voto feminino sem restrições; Suécia, desde 1862; Noruega, em 1913; Dinamarca, em 1915; além de Grécia, Áustria, Polônia, Inglaterra, EUA e México.
Com a inscrição da Professora Celina Guimarães Viana, acaba tornando-se a primeira eleitora do Brasil em 1927, lei de n. 660 de 25/10/1927, sancionada pelo Governador (RN) José Augusto Bezerra de Medeiros, lei
apresentada pelo Deputado por Mossoró, Adauto Câmara, sendo aprovada por unanimidade.
Em 12 de maio de 1928, o jornal Folha da Manhã, de São Paulo, destacava a seguinte manchete com a reportagem abaixo:
O aeroplano como vehiculo de propaganda
Rio, 12 – O feminismo continua a sua propaganda.
Hoje, a cidade assistiu a um interessante e inedito acontecimento. Distinctas senhoras, que fazem parte proeminente da diretoria da "Federação Brasileira pelo Progresso Feminino", voaram sobre a cidade em aeroplano, distribuindo cartões postaes e manifestos de propaganda do voto feminino.
Foram as sras. Bertha Lutz, sua brilhante presidente, D. Maria Amalia Bastos, primeira secretaria e Dra. Carmen Velloso Portinho, thesoureira.
Um dos postaes tinha os seguintes dizeres: "As mulheres já podem votar em trinta paizes e um Estado brasileiro porque não hão de votar em todo o Brasil?".
Paizes nos quaes as mulheres exercem direitos eleitoraes: Allemanha, Argentina (S. Juan), Austrália, Áustria. Belgica, Birmania, Canada, Colonia de Kenya, Dinamarca, Estados Unidos, Esthonia, Finlandia, Grã Bretanha, Hespanha, Hollanda, Hungria, Irlanda (Estado Livre), Irlanda (Norte), Islandia, Indias Britannicas e Estados Livres, Italia, Jamaica, Lethonia, Lithuania, Luxemburgo, Man (Ilha de), Mancha (Ilha de), Mexico, Noruega, Nova Zelandia, Palestina, Polonia, Rhodesia do Sul, Rumania, Russia, Suecia, Terra Nova, Tcheco Slovaquia e Brasil "Rio Grande do Norte".
Outro transcreve estas palavras de ouro de Ruy Barbosa: "A desigualdade entre os dois sexos era, sobretudo, um dogma político.
Mas, da politica, já elle desappareceu com a revolução que introduziu, de uma vez, no eleitorado britannico, seis milhões de eleitores que nos demais paizes eleitoraes onde a civilização põe a sua vanguarda, tem elevado a mulher aos cargos administrativos, ás funcções diplomaticas, cadeiras parlamentares e, até, aos ministerios, como em alguns Estados da União Americana, ha muito já se costuma.
Não bato, srs., moeda falsa: não tenho opiniões de occasião. Nem supponhaes que seja de agora esta minha maneira de ver. As tendencias da minha natureza, o amor de minha mãe pela companhia de minha esposa, a admiração da mulher na sua influencia sobre os destinos de todos os que a comprehendem, bem cedo, me convenceram de que as theorias do nosso sexo acerca do outro, estão no mesmo caso da historia narrada pelo fabulista do leão pintado pelo homem. A mulher pintada pelo homem é a mulher desfigurada pela nossa ingratidão.
Quando cabeças como a de Stuart Mill assim pensam não se há de envergonhar um cerebro ordinario como o meu, de pensar talqualmente ".
Ruy Barbosa (Palavras da conferência pronunciada do Theatro Lyrico em 20 de março de 1919 e publicada no "Correio da Manhã" de 21 do mesmo mez e anno). As feministas deixaram ainda cahir o seguinte appello á imprensa:
"A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, orgam do movimento feminista no Brasil faz um appello á imprenas carioca, sempre generosa na defesa das causas nobres, solicitando que dê o seu apoio á campanha em prol dos direitos politicos da mulher" (FOLHA DA MANHÃ, 1928).
Este texto mostra o pensamento no início do séc. XX, quando já se percebe um engajamento maior de políticos da velha república nas lutas pela emancipação política social das mulheres. As influências já ganhavam as estruturas do poder governamental. Agora já não era somente apelos advindos de senhoras que queriam conquistar um lugar no espaço político. Também não era mais um apelo de algum Deputado ou Senador desconhecido. Quem falava, neste momento, era Ruy Barbosa (1849-1923), um dos políticos que tinha o respeito da quase totalidade do meio político nacional. A contribuição de Rui na elaboração da 1ª Constituição da República de 24 de fevereiro de 1891, foi decisiva.
Sob a presidência de Saldanha Marinho e de outros maçons, como Américo Brasiliense, Francisco Rangel
Pestana, Antônio Luís dos Santos Werneck e José Antônio de Magalhães de Castro; que faziam parte da comissão de juristas, apresentaram o projeto resultante dos trabalhos que foi submetido ao Governo Provisório. Reunidos, os ministros reviram o projeto, cuja forma definitiva foi dada por Rui. Mesmo assim, o projeto do voto feminino não foi aprovado. Neste momento ainda pertenciam aos quadros da maçonaria Mal. Deodoro da Fonseca e Antonio Carlos Ribeiro de Andrade, que era diplomata e jornalista, que continuariam lutando pela emancipação política feminina.
Mesmo com a Ordem Maçônica, que exercia grande influência política, através de seus representantes, que tanto trabalharam em função da Proclamação da República, não conseguiram a aprovação do projeto de Saldanha Marinho de incluir nesta Constituição (1891), os direitos políticos da mulher.
Quando pensamos na imagem da mulher do século XIX, vemos um ser submisso ao seu marido ou entidade patriarcal e preocupada com os afazeres domésticos, mas não é essa a real situação da mulher no século XIX,
Emília Viotti da Costa explica essa visão:
Durante muito tempo, esses dois retratos – o da mulher dependente e o do poder patriarcal com seu inegável viés classista – ocultaram dos historiadores não só a complexidade e variedade da experiência feminina, como também as mudanças que estavam tendo lugar na vida das mulheres no decorrer do século XIX.[31]
Talvez isso se deva a analise da legislação da época, que de forma extremamente patriarcalista, subordinava a mulher em relação ao homem.
Em um livro publicado em 1869, o político liberal Lafayette Rodrigues Pereira, ilustre jurista e membro do Parlamento, observava que o marido tinha o direito de exigir obediência de sua mulher. Estava obrigada a moldar seus sentimentos aos dele em tudo o que fosse “honesto e justo”.[32] Diante a lei, a mulher estava permanentemente num estado de menoridade.[33] Mas nem todas as mulheres enquadravam-se nesse quadro, segundo Emília:
Dificilmente se enquadrariam nesse retrato patriarcal as escravas, mulheres que trabalhavam como empregadas e amas-de-leite na casa dos ricos, as trabalhadoras da indústria, as prostitutas e vendeiras nas ruas das cidades, assim como as que, na zona rural, trabalhavam de sol a sol ao lado dos homens, ou aquelas que apareciam desde o período colonial nos censos como chefes de família.[34]
Mas pensar que as mulheres na época permaneceram estáticas sob o domínio dos seus patriarcas é inconcebível, já que muitas mulheres – inclusive da alta sociedade – estavam recebendo influências “libertinas” inglesas e francesas.
Um número cada vez maior de mulheres passou a criticar a sociedade que dera aos homens mais direitos do que obrigações e às mulheres mais obrigações do que direitos.[35]
Mas os estreitos limites da sociedade local frustravam suas aspirações à independência econômica e à cidadania que aquela convivência alimentava.[36]
É bom lembrar que os avanços dos direitos femininos continuavam restritos aos grandes centros urbanos que adaptavam seus costumes aos cosmopolitas europeus, fora dessas áreas (no interior) continuava as mulheres submetidas ao julgo patriarcal.
Quanto aos direito da educação as mulheres, permaneciam nas escolas até os doze anos de idade quando saíam para se casar. Nas escolas, as meninas apreendiam rudimentos de história, geografia, aritmética, composição literária, doutrina cristã e trabalhos de agulha.[37]
Em razão da precária educação, poucas mulheres estavam preparadas para prestar os exames de seleção quando as Faculdades de Direito, Medicina, Farmácia e Arquitetura abriram finalmente suas portas às mulheres em 1879.[38] Mas apesar disso, você pode encontrar ao findar do século algumas mulheres entre os advogados, dentistas e médicos. Foi destes quadros que saíram as principais feministas.[39]
A história dos direitos da mulher passa pela luta contra os abusos sexuais, que eram muito comuns naquela época; que pode ser muito bem visto em um processo, em que um senhor é acusado de estrupar uma de suas escravas, e por incrível que pareça em 1877 o tribunal declara o processo improcedente:
“se o legislador tivesse em mente punir [...] os estrupos praticados pelos senhores em seus escravos menores de dezessete anos, dando nesses casos o direito de queixa aos promotores públicos [...] seguir-se-ia que iguais direitos teriam os promotores [...] de se queixarem pelos escravos em referência aos senhores todas as vezes que se tratasse de alguma outra ação [...] criminosa [...] do que resultariam milhares de processos em perigo para a sociedade”.[40]
Mas, com o fim da escravidão essa onda de abusos sexuais, tão freqüentes nos primórdios da história brasileira, vai ficando para trás com os imigrantes e trabalhadores livres que vieram assumir as novas forças de trabalho. Segundo Robert W. Slenes:
Com as mulheres livres, pertencentes a famílias que migravam freqüentemente entre fazendas, não funcionavam mais nem a letra morta da alforria, a promessa de estabilidade, com prêmios, a ameaça de expulsão e separação da família, tampouco a insinuação de trabalho mais duro (que não cabia mais ao senhor impor, mas ao chefe da família da trabalhadora).[41]
Podemos nessa mesma análise olhar o tráfico de pessoas (mulheres), que vinham se prostituir no Brasil.
Com efeito, uma estatística da polícia observava, em 1859, que na Freguesia do Sacramento, no centro do Rio, havia perto de mil prostitutas, das quais novecentas eram estrangeiras.[42]
Em última análise a mulher imigrante, em especial a alemã, que tinha hábitos muito controversos à realidade feminina brasileira.
Segundo Luiz Felipe de Alencastro e Maria Luiza Renaux, consegue-se ver o retrato claro da mulher alemã no segundo reinado:
As mulheres que permaneceram isoladas nas colônias – muitas das quais embarcaram na aventura da imigração para o Império por escolha do marido, estabelecia um contraste entre o papel da dona de casa alemã e o da brasileira, gerando o preconceito de que “brasileira é má dona de casa”.[43]
Dentro da família alemã apresentava-se como uma pequena empresa e, enquanto os filhos cresciam, o maior número de tarefas repousava sobre os ombros das mães.[44]
Considerações Finais
Dentre os fatos analisados nota-se uma diferenciação classista e uma luta constante entre elas dentro do processo imigratório e abolicionista; a retenção do direito fica a cargo do poder coercitivo dos senhores, que dispunham de recursos e gerenciavam a economia do país. A equidade legal esta longe de ser alcançada dentro do Brasil Império, mas no adentrar no Brasil oitocentista, uma graduação de conquista de direitos efetivasse; por parte dos escravos com tardias evoluções, mas inevitáveis.
Nota-se claramente nesse espaço que os direitos sociais eram restringidos ao gênero, cor, etnia e classe social; ficando os senhores (grandes fazendeiros) com o controle do poder da lei e fazê-la, ou até mesmo distorcê-la em seu favor. Criando no Brasil Império o cidadão e o sub-cidadãos (mulher, cativo e imigrante), mesmo o escravo, pois apresentavam na sociedade alguns direitos tácitos e as próprias leis abolicionistas garantiam certas prerrogativas; é claro que em regiões interioranas, onde potentados rurais prevaleciam, as seguranças jurídicas até mesmo do cidadão livre eram balizadas pelos fazendeiros latifundiários.
Esses cidadãos do século XIX foram o princípio para conquistas ulteriores, tendo cada um deles suas formas de gradualmente livrarem-se dessas contradições características do segundo reinado.
Bibliografia
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SCHWARCZ, Lilia M. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo : Companhia das Letras, 1998.
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NARLOCH, Leandro. Guerra do Paraguai. Aventuras na História: Grandes Guerras, São Paulo : Abril, vol. 10. p. 26-43. março. 2006.
DEZEM, Rogério. A Propaganda e Contrapropaganda na Imigração. História Viva, São Paulo : Duetto, ano II, vol. 19. p. 82-86. maio. 2005
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COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República. 8. ed. São Paulo : Unesp, 2007.
Notas
[1] MATOSO, Katia M. Q. A opulência na província da Bahia In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 169.
[2] HOBSBAWN, Eric J. A Era do Capital: 1848 – 1875. 15. ed. São Paulo : Paz e Terra, 1917. p. 222
[3] CASTRO, Hebe M. Mattos. Laços de família e direitos no final da escravidão In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 357.
[4] CASTRO, Hebe M. Mattos. Laços de família e direitos no final da escravidão In: História da vida privada no Brasil II: Império: a corte e a modernidade nacional, São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 355.
[5] Robert W. SLENES. Senhores e subalternos no oeste paulista. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 277-8.
[6] Ibidem, p. 276.
[7] Ibidem, p.276.
[8] SCHWARCZ, Lilia M. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo : Companhia das Letras, 1998. p. 428-9.
[9] NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Leya, 2011. p. 94.
[10] CASTRO, Flávia L. História do Direito: Geral e Brasil 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 405-6
[11] ALENCASTRO, Luiz Felipe. Vida privada e ordem privada no Império In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 79-80
[12] Jornal Comercial, 8/11/1851 In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 76-7
[13] ALENCASTRO, Luiz Felipe. Vida privada e ordem privada no Império In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p.78.
[14] Joaquim Manuel de MACEDO, A Moreninha. cap. II, p. 22. Apud ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 32.
[15] Robert W. SLENES. Senhores e subalternos no oeste paulista. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 282.
[16] NARLOCH, Leandro. Guerra do Paraguai. Aventuras na História: Grandes Guerras, São Paulo : Abril, vol. 10. março. 2006, p. 40.
[17] O Monitor Campista, 28/3/1888. apud ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 372.
[18] CASTRO, Hebe M. Mattos. Laços de família e direitos no final da escravidão In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 374.
[19] DEZEM, Rogério. A Propaganda e Contrapropaganda na Imigração. História Viva, São Paulo : Duetto, ano II, vol.19. maio. 2005, p. 85.
[20] Ibidem, p.84.
[21] ALENCASTRO, L. F. e RENAUX, M. L. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 314.
[22] ALENCASTRO, L. F. e RENAUX, M. L. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 . p. 318-9.
[23] Emílio WILLEMS, A aculturação dos alemães no Brasil, pp. 55 e 61-4. apud ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 321.
[24] Robert W. SLENES. Senhores e subalternos no oeste paulista. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 236.
[25] Robert W. SLENES. Senhores e subalternos no oeste paulista. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 284
[26] ALENCASTRO, L. F. e RENAUX, M. L. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 325.
[27] FISHER, Luís A. O Maníaco do Açougue. Aventuras na História, São Paulo : Abril, vol. 12. agosto. 2004, p. 75.
[28] ALENCASTRO, L. F. e RENAUX, M. L. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 321.
[29] DP, Amparo, ao CP, 13/12/1872, pasta: “Delegados, dezembro, 1872”, cx. 2542-107 (Polícia, 1872), APESP. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p.
283.
[30] Robert W. SLENES. Senhores e subalternos no oeste paulista. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 284-5.
[31] COSTA, Emília Viotti.Da Monarquia à República. 8. ed. São Paulo : Unesp, 2007. p. 496.
[32] Ibidem, p. 494-5.
[33] Ibidem, p. 495.
[34] Ibidem, p. 497.
[35] Ibidem, p. 501.
[36] Ibidem, p. 501.
[37] Ibidem, p. 504
[38] Ibidem, p. 505.
[39] Ibidem, p. 507.
[40] Acórdão de 11/5/1883 do Tribunal da Relação de Pernambuco, cit. em Lenine NEQUETE, “As relações entre senhor e escravo no século XIX – o caso da escrava Honorata”, Revista Brasileira de Estudos Políticos, jul. 1981, n° 53, p. 231. apud ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 262.
[41] Robert W. SLENES. Senhores e subalternos no oeste paulista. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 288.
[42] MELLO MORAES, Corographia histórica, vol. II, p. 444. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 73-4
[43] ALENCASTRO, L. F. e RENAUX, M. L. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p.324
[44] Arthur RAMBO, Jornal de Santa Catarina, 28/11/96, Cad. A, Destaque “Colonização” (2), p. 3A. apud ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 322.