Pensar a chamada Revolução Industrial, como qualquer outro evento histórico, é estar diante de um caleidoscópio que nunca será desvendado, apenas observado de forma fracionada por um olhar a posteriori, cheio de anacronismos, ávido por sentidos que perpassam um certo sentido humanisticamente social.
Eric Hobsbawm, de forma magistral, analisa este evento, primeiramente podemos evocar o termo em si, que alguns historiadores denominaram de "evolução industrial", o que remeteria a certo darwinismo, a busca por algo que defina um momento através de uma possível coerência narrativa. Além disso, lidamos com a idéia de revolução, fazendo emergir a concepção de ruptura, "velho" e "novo" diante de um outro embate.
Hobsbawm aponta um período com diversas nuances que propiciariam ou culminariam neste evento histórico, não apenas restrito a um absolutismo tecnológico e científico, tendo em vista tais processos terem se desenvolvido de forma mais apurada em outras partes do planeta, caindo por terra uma explicação simplista acerca do fenômeno.
Por trás da Revolução Industrial existia o interesse nos mercados colonias e denominados "subdesenvolvidos" no ultramar, a Grã-Bretanha importava sua idéia de "progresso", já com uma cultura de lucro privado e desenvolvimento econômico introjetada em sua política governamental, com uma agricultura sendo conduzida por empresários que ambicionavam uma expansão produtiva que tencionava atender um crescimento urbano, visando lucros astronômicos.
A Grã-Bretanha teve destaque em sua indústria algodoeira que é vista como alavanca de seu expansionismo econômico, contando com permuta de mão-de-obra escrava que era corriqueira nas colônias, além de acasos que minaram a força da concorrência, como o caso da Índia, uma espécie de terceirização com o chamado "sistema doméstico", também barateou os custos de produção britânica.
A Grã-Bretanha teve destaque em sua indústria algodoeira que é vista como alavanca de seu expansionismo econômico, contando com permuta de mão-de-obra escrava que era corriqueira nas colônias, além de acasos que minaram a força da concorrência, como o caso da Índia, uma espécie de terceirização com o chamado "sistema doméstico", também barateou os custos de produção britânica.
Além da necessidade de um mercado consumidor em expansão constantemente, a necessidade de criar incentivos ao consumo, inclusive de classes mais abastadas, além de angariar as grandes massas populares, também contando com a mão-de-obra proletária assalariada, diferencial em relação ao período denominado pré-industrial, contando com mulheres e crianças na linha de produção para diminuição dos encargos salariais, criando avanços econômicos que iriam a bancarrota posteriormente.
A Grã-Bretanha criava uma economia, conforme as palavras de Hobsbawm, mais parasitária do que competitiva, pode-se inclusive destacar a dependência do consumo da América Latina na primeira metade do século XIX que impediu a quebra da indústria algodoeira britânica.
Apareciam contradições no sistema chamado capitalista, depauperando a sociedade e ocorrendo crises econômicas que contestavam as perspectivas otimistas de economistas, surgindo a necessidade de investimentos mais ousados, - contrariando um certo arcaísmo que remonta a tradição fisiocrata - onde empresários investiam em bens de capital, com perspectivas de lucro a longo prazo, muitas vezes duvidosas.
Observa-se destaque no setor metalúrgico devido a desenvolvimentos tecnológicos, embora ainda assim tenha se mantido uma produção modesta, comparada a outros produtos, a mineração também manteve certa estabilidade, salientando a necessidade de classes abastadas em aplicar seu capital, o que gerou o empréstimo a países estrangeiros, embora tenha se mostrado ineficaz tal procedimento.
Foi a revolução social o grande fator diferencial na Revolução Industrial, pela observação de uma necessidade urbanística, criando um campesinato que visava atender demandas metropolitanas, aumentando o avanço econômico na mesma proporção que a miséria da maior fração da população, surgindo outro fator como agravante produtivo, a mão-de-obra qualificada para atuar de forma adequada às tecnologias.
Tal perspectiva mecânica fez surgir movimentos contrários ao avanço tecnológico, que foi "demonizado" e confrontado, como foi o caso do movimento ludista, além da mudança de hábitos agrários mais maleáveis que deveriam se adequar a uma racionalização industrial de produção, uma violência aos hábitos "pagãos "(1).
Os investidores britânicos acabaram aderindo ao "progresso", inspirados pelo romantismo que a ferrovia inspirou, acabaram desviando-se do ideal pecuniário acumulativo que beirava a avareza e mergulhavam de cabeça em um sonho de modernização, acelerando o processo de produção, encurtando distâncias comerciais, engrossando literaturas romanescas, tendo um papel demiúrgico e pioneiro, mesmo que de forma inconsciente, de um dos grandes movimentos da História Contemporânea, segundo Hobsbawm, a Revolução Econômica, que teria sido alicerçada pelos ideais da Revolução Política e Ideológica, que foi conhecida como Revolução Francesa.
Nota:
1- Termo que se refere a origem etimológica latina "pagvs", relacionado ao morador do campo, camponês.
Referência Bibliográfica:
HOBSBAWM, Eric John Earnest. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 19. ed. tradução: Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. São Paulo: Paz e Terra S/A, 2005.
HOBSBAWM, Eric John Earnest. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5.
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