segunda-feira, 28 de maio de 2012

RETÓRICA - BREVE CONCEITO

Na antiguidade o campo da lógica informal foi ocupado pela retórica.
A retórica era cultivada como a arte da eloquência, ou seja como um conjunto de técnicas que visavam persuadir ou convencer um auditório através do discurso.
A retórica nasceu da necessidade de resolver conflitos através da argumentação: nos tribunais e nas assembleias políticas e o seu aparecimento é um verdadeiro progresso civilizacional na Grécia antiga, porque permitiu que o debate substituísse a violência quando estavam em causa conflitos de interesse que excitavam as paixões dos envolvidos.
Cedo se formou um grupo de cultores da retórica, os sofistas. Estes foram durante muito tempo os principais educadores das elites das grandes cidades gregas e em especial de Atenas, o berço da democracia.
Sócrates e Platão entraram em conflito aberto com os sofistas acusando-os de  praticarem a retórica como uma arte da ilusão e da manipulação, uma fonte de perversão que urgia combater sem vacilar.
Para estes filósofos a busca da verdade e a consequente libertação dos homens da ignorância e da superstição era uma das principais metas da filosofia.
Os sofistas, por sua vez, visavam que os seus discursos fossem eficazes, ou seja, que produzissem efeitos políticos que, no fundo, permitissem exercer um poder efetivo sobre os cidadãos. Por isso defenderam uma ética relativista e pragmática: o bom deve estar submetido ao útil (pragmatismo) e o saber vale pelos seus efeitos práticos, pelo que não existe nenhum saber superior à opinião (doxa) e entre as opiniões vence a que for aceite pelo público, ou seja, a que for melhor defendida.
É neste contexto que se dá o julgamento de Sócrates que teve como desfecho a sua condenação à morte.
Depois deste conflito entre Platão (e Sócrates) e os sofistas, Aristóteles procede a uma verdadeira reabilitação filosófica da retórica. Na sua obra Retórica, procede a uma sistematização do campo temático desta disciplina, procurando apresentá-la como um complemento da Lógica e afastando-a do domínio da manipulação sofística.
"Para muitos, a retórica pouco mais é do que mera manipulação linguística, ornato estilístico e discurso que se serve de artifícios irracionais e psicológicos, mais propícios à verbalização de discursos vazios de conteúdo do que à sustentada argumentação de princípios e valores que se nutrem de um raciocínio crítico válido e eficaz. Mas a restauração da retórica ao seu velho estatuto de teoria e prática da argumentação persuasiva como antiga e nova rainha das ciências humanas tem vindo a corrigir essa noção enganosa, revalorizando-a como ciência e arte que tão logicamente opera na interpretação dos dados que faz intervir no discurso, como psicológica e eficazmente se cumpre no resultante efeito de convicção e mobilização para a ação de um auditório através do discurso. 
No fundo, a retórica é um saber que se inspira em múltiplos saberes e se põe ao serviço de todos os saberes. E um saber interdisciplinar no sentido pleno da palavra, na medida em que se afirmou como arte de pensar e arte de comunicar o pensamento. E como saber interdisciplinar e transdisciplinar, a retórica está presente no direito, na filosofia, na oratória, na dialética, na literatura, na hermenêutica, na crítica literária e na ciência.
A retórica é uma das artes práticas mais nobres, porque o seu exercício é uma parte essencial da mais básica de todas as funções humanas. Daí a especial atenção que Aristóteles lhe dedicou, corrigindo tendências sofísticas e codificando princípios metodológicos e técnicos que, com o evoluir da tradição, se haveriam de consagrar num cânone retórico de grande fortuna e proveito.
Na retórica aristotélica nós encontramos o saber como teoria, o saber como arte e o saber como ciência; um saber teórico e um saber técnico, um saber artístico e um saber científico. 
No trânsito da antiga para a nova retórica, ela naturalmente transformou-se de arte da comunicação persuasiva em ciência hermenêutica da interpretação. O seu duplo valor como arte e ciência, como saber e modo de comunicar o saber, faz dela também um instrumento mediante o qual podemos inventar, reinventar e solidificar a nossa própria educação. O esforço transdisciplinar que hoje em dia se faz para melhor compreender o papel da retórica e da hermenêutica na crítica do texto filosófico e literário mostra-nos que estas são duas áreas do saber intrinsecamente ligadas à essência da praxis humana.
O justo relevo dado por Chaim Perelman à vertente argumentativa desta arte colocou mais uma vez a Retórica de Aristóteles na moda, e as traduções que dela se fazem sucedem-se em ritmo acelerado nas mais diversas línguas."
Manuel Alexandre Júnior, prefácio da obra de ARISTÓTELES, Retórica, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2005

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A História da África na cultura Mundial e Brasileira

Tradicionalmente, é aceita e afirmada a idéia de que o Brasil é um país formado por três raças: índios, brancos e negros. Contudo, quando a história do Brasil é ensinada no ambiente escolar, o aluno depara com um ajuntamento de fatos que narram a trajetória dos europeus na América. Pouco ou quase nada sabemos dos outros dois povos fora da área de alcance da atividade dos homens do velho mundo.

 
Foi pensando nesta deficiência na formação escolar que no dia 9 de janeiro de 2003 foi aprovada a Lei 10.639 que alterou o currículo oficial da rede de ensino e torna obrigatório o ensino de história da África e da história e cultura afro-brasileira. Dotada de caráter político, a lei pretende simultaneamente contribuir para o fim de preconceitos raciais e afirmação da identidade e orgulho das origens. Trata-se de uma medida reparatória e de inclusão que visa contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, com igualdade de oportunidades e livre de preconceitos.

 
Independente das origens de professores e alunos, é dever moral e político de todos combater o racismo e qualquer forma de discriminação, como frisa o parecer a respeito da lei.

 
O antigo currículo escolar privilegiava uma perspectiva que valorizava os padrões culturais europeus. Uma vez que a população brasileira é formada por 45% de afro-descendentes (IBGE), ele excluía da história da formação do Brasil quase metade da população. Por ser retratada apenas no período da escravidão, a imagem passada aos alunos do ensino médio e fundamental é que este fora o papel da população negra na história do Brasil: ser escrava. A nova lei define as novas temáticas que devem fazer parte do cotidiano dos alunos o “estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

 
Em vigor há nove anos, a lei já trouxe mudanças significativas que podem ser identificados no aumento da quantidade de materiais didáticos e paradidáticos para os alunos do ensino médio e fundamental. Amostras deste tipo é o livro de Marina de Mello e Souza “África e Brasil Africano”, vencedor do prêmio Jabuti de 2007. Também é perceptível o aumento sensível do consumo de romances de autores africanos por leitores brasileiros. Um bom exemplo é o escritor moçambicano Mia Couto, um dos mais lidos nesta categoria e homenageado na Feira Literária Internacional de Parati (FLIP) em 2009.

 
A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), maior vestibular do país, assim como outros vestibulares tem apresentado regularmente nos últimos anos questões que envolvem o continente africano e a cultura afro-brasileira. Na primeira fase do vestibular 2011 foram 7 questões em um total de 90.

 
Essa mudança muito mais do que uma alteração no currículo de ensino, trata-se de uma mudança de mentalidade. Aos poucos o retrato do país ganha novos contornos e novas formas, em uma relação de mais respeito de igualdade entre os cidadãos. Aprender e entender a importância do continente africano para o Brasil e de seus descentes é avançar na construção de um país mais democrático.

Uma abordagem mais profunda sobre a questão Africana foi apresentada por nosso colega Jeffeson em palestra realizada no campus Santo Amaro da Estácio Uniradial de São Paulo

Apresentação da História da África na cultura mundial e Brasileira