sábado, 24 de setembro de 2011

LINKS ÚTEIS - HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL


Dois professores dialogando
Em português:
16. Book da Editora Mandruvá (artigos de História Medieval)
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terça-feira, 6 de setembro de 2011

A visão Renascentista da Idade Média

O que devemos entender, afinal de contas, quando dizemos "Idade Média"? Esse termo refere-se a uma divisão do tempo que engloba praticamente 1.000 anos de história do continente europeu. Essa classificação para o período - "Média" - foi uma forma de os homens dos séculos 14 e 15, dos reinos italianos, mostrarem que eram inovadores, modernos, transformadores.

Quanto à criação da expressão Idade das Trevas, criada pelos homens da Renascença na tentativa de delimitar o período intermediário entre a brilhante cultura da Antiguidade Clássica e o movimento que levou os europeus a fazerem renascer os valores dessa cultura, além de expressar o conflito entre a razão e a tradição. Para o autor, a “Idade Média” representou para os renascentistas uma “interrupção no progresso humano inaugurado pelos gregos e romanos” e por isso “os séculos “medievais” eram vistos como de barbárie, ignorância e de superstição.

Os iluministas se baseavam na ideia de que a humanidade caminharia no sentido do progresso, da liberdade e da busca pela felicidade, correspondendo a uma autêntica revolução da mentalidade no século 18. Anticlerical e antiaristocrático menosprezavam a Idade Média, vista como momento áureo da nobreza e do clero.

Esses homens - pintores, artistas e pensadores do chamado Renascimento - achavam que estavam rompendo com um período culturalmente atrasado do mundo ocidental, dominado pelo pensamento da Igreja católica. Assim, os renascentistas classificavam-se como "modernos" e acreditavam que estavam fazendo renascer o esplendor das culturas grega e romana da Antigüidade.

Tal classificação, na verdade, é uma simplificação preconceituosa, pois ao tentar ordenar, estigmatiza uma cultura como inferior a outra e resume a história de diversos povos que viviam na Europa como uma só história.

A própria expressão “Idade Média” carrega consigo um valor depreciativo, na verdade, ela remeteria à ideia de um período histórico intermediário, sem grande importância e até mesmo marcado por uma certa mediocridade. Assim, sua escolha para designar o período localizado “entre a Antiguidade Clássica e o próprio século XVI” revela a visão dos intelectuais humanistas da época, para os quais era um “período de trevas".

A IDADE MÉDIA - O BERÇO DA MODERNIDADE

Somos anões empoleirados nos ombros de gigantes. Assim, vemos melhor e mais longe do que eles, não porque nossa vista seja mais aguda ou nossa estatura mais alta, mas porque eles nos elevam até o nível de toda a sua gigantesca altura...”

Bernardo de Chartres



O conceito de Idade Média como “Idade das Trevas”, em oposição ao Renascimento e à Antigüidade, foi forjado sobretudo no século XIX pelos historiadores liberais, segundo o qual a Idade Média teria interrompido o progresso do conhecimento e da cultura do homem, que seriam retomados mais tarde no século XVI. Felizmente, este conceito vem sendo desmistificado por diversos estudiosos. Seguindo a teoria de Toynbee, os movimentos culturais podem estar ligados por uma relação de gerações, de tal modo que uma cultura seja filha da outra. Esta é relação existente entre a Antigüidade, a Idade Média e a Cultura Ocidental Moderna. A idéia de Idade Média como uma época que esqueceu os antigos não se fundamenta e, na verdade, temos a Idade Média como filha da Antigüidade e berço do Renascimento e, enfim, do nosso mundo ocidental.

 Portanto não é possível estudar a Idade Média se nos limitarmos a (pre) conceitos criados a posteriori, pois nela encontramos elementos cuja história e significado só se encontram em períodos mais antigos.

O medievo bebe na fonte dos antigos mas, não se contentando com o paladar, altera-lhe o sabor a seu gosto. Estamos falando de uma nova utilização dos antigos (entendidos como toda a cultura antiga, não somente a clássica), que alguns chamariam supostamente de imitação servil, mas que, aos olhos do homem da época é algo completamente novo, moderno. A partir do legado da tardia Antigüidade latina, a Idade Média adotou e transformou seus elementos, construindo uma imagem própria dos antigos: “a Antigüidade está presente na Idade Média como recepção e transmutação”.

Os medievos procuraram traduzir, estudar e entender os antigos, pois, para refutar suas doutrinas foi preciso conhecê-las. Eles acreditavam que a filosofia antiga (sobretudo Aristóteles e Platão) tinha de ser reutilizada, à luz de uma nova interpretação cristã, como nos diz neste trecho o inglês Daniel de Morley, reportando-se ao bispo de Norwich:

“Que ninguém se aflija se, tratando da criação do mundo eu invocar o testemunho não dos Padres da Igreja, mas de filósofos pagãos, pois, ainda que estes não figurem entre os fiéis, algumas de suas palavras, a partir do momento que estejam cheias de fé, devem ser incorporadas ao nosso ensino.”
 

                 Vejamos a reinterpretação que Santo Agostinho, um dos expoentes da Idade Média, faz de Platão e Aristóteles, ilustrando com o capítulo 8 do livro VI das Confissões. Nele, Alípio – ex-aluno e futuro amigo de Agostinho – recusa-se a assistir às lutas de gladiadores, mas acaba sendo levado “amigavelmente” à força pelos amigos. Para se proteger contra a massificação e a catarse daquele espetáculo sangrento e cruel, o jovem Alípio conta com seu esclarecimento sobre o que é o bem e o mal, pois o homem instruído e consciente seria capaz de se proteger contra tais males: “Por arrastardes a esse lugar e lá colocardes o meu corpo, julgais que podereis fazer com que o espírito e os olhos prestem atenção aos espetáculos? Assistirei como ausente, saindo assim triunfante de vós e mais dos espetáculos”. Ledo engano: o homem esclarecido, consciente de si mesmo se entrega tanto mais facilmente e com tanto mais ardor àquela massificação. Vamos nos apoiar na brilhante análise que Erich Auerbach faz desse texto para mostrar como a Antigüidade é reutilizada pelo pensador cristão. A autoconsciência individualista e orgulhosa é derrubada: “não se trata de um Alípio qualquer, mas de toda a cultura racional e individualista da Antigüidade clássica: Platão e Aristóteles, os estóicos e os epicuristas”. A derrocada é tanto maior quanto maior a suposta consciência: o homem consciente se converte em massa e vai além, conduz a massa. Essa mudança radical, como aponta também Auerbach, é cristã, sendo a derrota a primeira etapa da redenção em Deus: “O Cristianismo dispõe, na sua luta contra a embriaguez mágica, de outras armas que não as da elevada cultura racional e individualista da Antigüidade”. Se por um lado, Agostinho reutiliza os antigos, seu estilo de texto é“totalmente anticlássico”, tanto no tom humanamente dramático como na forma, que lembra passagens bíblicas; Agostinho se utiliza dos clássicos, mas não se deixa dominar por ele, como aponta Auerbach.

Dante é outro “produto” da Antigüidade, e bebe dessa fonte para construir o maior painel da época medieval, sua Divina Comédia. Na viagem de Dante ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso –conduzido pelo altíssimo poeta Virgílio, a mentalidade, a cultura, a sociedade, o amor são questionados em conversas travadas com inúmeros personagens. A Divina Comédia também é uma censura à época, escrita, segundo o poeta, em “linguagem vulgar que as mulheres utilizavam em suas conversações diárias”. No canto IV do Inferno, Dante e Virgílio se encontram com os antigos: Homero, Horácio, Ovídio, Lucano e depois Estácio. Esse encontro representa a aceitação de Dante no círculo dos poetas antigos (a bella scuola) e a sanção de sua missão poética. Assim, só podemos compreender Dante, se estudarmos Virgílio e, antes deste, Homero:

“O encontro de Dante com a bella scuola autoriza a incorporação da épica latina na poesia universal cristã. Compreende um lugar ideal, onde ficou reservado um nicho para Homero, e onde se acham reunidas todas as grandes figuras do Ocidente (...) Nele deita raízes a Divina Comédia. É a velha estrada da Antigüidade que conduz ao Mundo Moderno.”


             Ecoam também em Giovani Bocaccio, autor do Decameron, os reflexos dos antigos. Na medida em que ambos rompem com uma estrutura rígida coercitiva, Eurípides e Bocaccio são precursores da nossa modernidade. Aquele desmistificando o esquema coercitivo-aristocrático das tragédias, colocando o povo como personagem principal e celebrando o indivíduo. Bocaccio, grande admirador e seguidor de Dante, popularizando a literatura e escandalizando com suas novelas, escritas em língua vulgar, em que jovens fogem da peste e se refugiam nos montes, visualizando novos horizontes (fuga do passado, rumo a uma nova era); temos, então, uma transfiguração do espírito revolucionário de Eurípides. Além disso, ambos são precursores do romance burguês moderno.

Podemos citar inúmeros outros exemplos, mas limitemo-nos a expor mais dois: o primeiro intelectual, tal como concebemos, nasceu na Idade Média: Abelardo, cristão nutrido na filosofia antiga que reclama a aliança entre a razão e a fé, o primeiro professor, para usar as expressões de Le Goff; e as Universidades, centro da nossa intelligentsia e instituição de pesquisa por excelência, foram criadas nessa época.

Há que se negar as oposições Medievalidade-Antigüidade e Medievalidade-Modernidade pois não se pode ser moderno se não se estuda os antigos. Isso vale tanto para a Idade Média em relação à Antigüidade como para o nosso mundo com relação à Idade Média. É a partir do legado da Idade Média que os clássicos chegam aos renascentistas e, depois, até nós. Dizemos que nosso mundo atual é fruto do pensamento clássico greco-romano. Na verdade, não nos damos conta que somos filhos do pensamento medieval, no qual os conceitos clássicos passaram pelo filtro da doutrina cristã:

“falamos idiomas surgidos naquela época, temos ou pretendemos ter governos representativos, consideramos indispensáveis instituições como julgamento por júri e habeas corpus, alcançamos maior eficiência com o sistema bancário, a contabilidade e o relógio mecânico, cuidamos do corpo com hospitais e óculos, alimentamos melhor o espírito graças à notação musical, à imprensa e às universidades, embelezamos a vida com a música polifônica e os romances”.

Temos de tentar compreender a Idade Média, então, a partir dos olhos de uma pessoa daquela época, isto é, sem preconceitos, reconhecendo sua modernidade e seu rico legado cultural. Conhecer a Idade Média, matriz da civilização ocidental cristã, enfim, é compreender melhor o nosso século.

Referências Bibliográficas

AUERBACH, Erich. Mimesis – A Representação da Realidade na Literatura Ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1998.

CURTIUS, Ernst R. Literatura Europea y Edad Media Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1995.

FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média – Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1996.

HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

LE GOFF, JACQUES. Os Intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1995.

LOYN, Henry R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.

SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999, Coleção Os Pensadores





quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A RENASCENÇA E A REFORMA PROTESTANTE

INTRODUÇÃO

A SITUAÇÃO NA EUROPA NO SÉCULO XIV
A partir do século XIV é que podemos perceber a desagregação do mundo medieval. Essa progressiva desagregação é demonstrada nos diferentes níveis da realidade social.
No plano econômico, assistimos à derrocada da economia feudal e ao renascimento do comércio, que culminará com as grandes navegações do século XVI.
No plano social, temos o desenvolvimento de uma camada de mercadores e o progressivo declínio da nobreza feudal.
No plano político, ocorre progressivamente uma centralização do poder nas mãos dos reis. As soberanias feudais locais vão desaparecendo. O rei, aliado aos mercadores, vai sujeitando à sua autoridade o poder da nobreza feudal e da igreja.
No plano religioso, assistimos ao declínio da igreja, com o surgimento de uma série de movimentos que irão culminar com a Reforma Protestante.
No plano cultural, temos o Renascimento cultural ou Renascença.
Todas essas transformações que ocorrem na Europa Ocidental, a partir do século XIV, estão intrinsecamente ligadas entre si e atuando umas sobre as outras.

O RENASCIMENTO, OU RENASCENÇA
Até os fins da Baixa Idade Média, a igreja monopolizava a educação e a cultura na Europa Ocidental.
A cultura era teocêntrica, isto é, o pensamento e as artes ocupavam-se somente com o estudo de Deus e da vida sobrenatural.
Com o surgimento de novas condições de vida em sociedade, uma nova cultura começou a aparecer. Essa nova cultura tinha um caráter humanista (valorização do homem e suas obras), leigo e antropocêntrico (colocação do homem como centro do universo).
É ao surgimento e desenvolvimento dessa cultura leiga, humanista e antropocêntrica que atribuímos o nome de Renascimento Cultural.

AS CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO CULTURAL
O Renascimento Cultural ou Renascença, como já vimos, foi o surgimento de uma cultura antropocêntrica em oposição ao teocentrismo medieval. Outra característica da Renascença foi o individualismo em oposição ao coletivismo da Idade Média. Cada renascentista julgava-se o elemento mais importante do mundo. Isso pode ser facilmente explicado: enquanto na Idade Média o homem só se via fazendo parte de um todo ( o cristão só se entendia como parte da igreja, o servo como elemento de um feudo, o artesão como elemento de uma corporação), na época renascentista, com o estabelecimento da sociedade competitiva, cada indivíduo procurava se sobrepor aos demais, buscando a satisfação de seus impulsos e desejos.
No Renascimento, notamos também uma forte inclinação para o Naturalismo. O homem renascentista valorizava a natureza, fundamentalmente a natureza humana.
No plano do conhecimento, as características fundamentais do Renascimento Cultural foram:
- O racionalismo - todo conhecimento tem que ser demonstrado pela razão humana.
- O experimentalismo - o conhecimento deve ser demonstrado através de experiências.

FATORES QUE LEVARAM AO RENASCIMENTO
O Renascimento Cultural foi um produto das transformações ocorridas na Europa Ocidental a partir da Baixa Idade Média. Essas transformações foram:
- O Renascimento Comercial, ou seja, a generalização do comércio pela Europa Ocidental.
- O Renascimento Urbano, que implicou um crescimento e surgimento de novas funções para as cidades. A cultura renascentista foi uma cultura eminentemente urbana.
- O surgimento e ascensão de uma camada de mercadores. Os ideais elaborados pelo Renascimento correspondiam, de um modo geral , aos interesses desse grupo. Foram os mercadores os principais elaboradores e financiadores da cultura renascentista.
- A centralização do poder nas mãos dos reis. Na medida em que foram centralizando o poder em suas mãos, os reis foram submetendo a igreja a sua autoridade. Esta submissão possibilitou a ascensão dos mercadores e o surgimento de uma cultura renascentista.
- O declínio da igreja que monopolizava a cultura medieval. Com o declínio da igreja, foram surgindo novos centros de saber na Europa Ocidental - as Universidades - que se desenvolveram a partir do século XI, financiadas pelos mercadores. Retoma-se o estudo de toda a cultura clássica e especificamente do direito comercial romano.
- O desaparecimento dos ideais de vida da Idade Média, que possibilitou o surgimento de um novo homem - o humanista. Entre esses ideais, que desapareceram, podemos citar : a cavalaria - que, além de arma de guerra era o código de honra da nobreza feudal, passou, com o renascimento, a ser tratada com desprezo e até mesmo a ser ridicularizada; a escolástica - que buscava a conciliação da fé com a razão, passou a ser desdenhada.
Como vimos, o Renascimento Cultural é um produto das transformações européias no alvorecer da Idade Moderna.
É preciso lembrar, no entanto, que a Europa não é um todo monolítico. Enquanto na Itália e Países Baixos já temos no século XIV um significativo desenvolvimento da produção capitalista e o domínio político de uma burguesia nascente, em outros países europeus temos, ao contrário, o fortalecimento das relações feudais, e, conseqüentemente, da nobreza feudal.
Portanto, o Renascimento Cultural terá certas variações nacionais e seu engendramento dever-se-á a condições histórica específicas de cada país.

A REFORMA PROTESTANTE
A Situação da Europa na Época da Reforma Protestante
Durante todo o per[iodo feudal, o predomínio cultural pertenceu à Igreja católica, que monopolizava a educação e a cultura. A igreja era a única instituição centralizada de toda a Europa feudal e sua força era superior à dos reis.
O homem medieval era profundamente religioso.
A Igreja pregava o amor ao próximo e a humildade. Contudo, havia uma grande contradição entre o que ela pregava e o que praticava.
Nos séculos XIV e XV, a degeneração da igreja atingiu um grau monstruoso. O alto clero vivia num ambiente de luxo. Moitas pessoas se convenciam então de que a igreja se afastara da doutrina original de Cristo, sendo necessário fazê-la retornar ao ponto de partida.
Com o surgimento da Universidades, muitos eruditos, passaram a ler a Bíblia independentemente das interpretações da igreja, difundindo a doutrina original de Cristo.
Esse eruditos, tal como Erasmo de Rotterdam, propunham uma reforma no interior da própria igreja.
Também os camponeses e artesãos medievais, explorados pelos senhores leigos e eclesiásticos, moviam contra a igreja violentas lutas armadas. Essas lutas contra os abusos do poder da igreja assumiam um caráter de heresia.
O primeiro grande movimento dessa natureza foi o movimento husita (devido ao seu líder John Hus), que irrompeu na segunda década do século XV no reino de Boêmia. A igreja viu-se obrigada a fazer sérias concessões aos rebeldes ante a derrota das tropas dos cruzados e mercenários por ela contratados. A igreja, pela primeira vez em sua história, teve que tratar publicamente com os hereges, aceitando suas petições.
Outro movimento popular herético foi o movimento liderado por Wycliffe na Inglaterra. Os camponeses queriam a abolição da servidão e da cobrança dos dízimos pela igreja. Wycliffe pregou até o confisco dos bens dos mosteiros, tendo sido apoiado nessa reivindicação pela nobreza inglesa, interessada nas terras da igreja. As suas propostas teológicas eram revolucionárias, marcadas por um caráter anti-clerical, antifeudal e democrático. Para Wycliffe, qualquer homem estava tão próximo de Deus quanto os padres, tendo, portanto, o direito íntimo de juízo em matéria de religião. Os sacramentos tinham pouca importância em comparação com a pregação e estudo da Bíblia. O homem era mais importante sendo ativo no mundo do que trancado num mosteiro.
Erasmo, ao nível da crítica intelectual, e John Hus e Wycliffe, ao nível dos movimentos populares, podem ser considerados os precursores da Reforma.

OS FATORES QUE GERARAM A REFORMA PROTESTANTE
- A expansão marítima e comercial que fortaleceu a burguesia européia, interessada na reforma religiosa. Tal interesse se devia tanto à moral econômica católica do "preço justo", elaborada por Tomás de Aquino, que constituía um obstáculo ao desenvolvimento do comércio, como também ao alto custo do clero para a burguesia nascente.
- A formação das monarquias nacionais: com o surgimento dos Estados centralizados, o poder real e a igreja entraram em conflito na medida em que esta última constituía um empecilho ao fortalecimento do poder real. Por outro lado, os dízimos, a venda das indulgências e de relíquias sagradas retiravam dos Estados Nacionais uma boa parte da renda que era transferida para o papado na Itália.
- O Renascimento Cultural. Na medida em que desenvolveu uma cultura antropocêntrica, um espírito de crítica, o individualismo levou ao declínio da escolástica e contribuiu para a Reforma Protestante.
- O declínio da igreja: a venda de indulgências e de cargos religiosos tornou a igreja alvo de crítica da maior parte de seus fiéis.
Em cada país acrescentou-se a atuação de fatores específicos no surgimento da Reforma Protestante.

A SITUAÇÃO DA ALEMANHA NA ÉPOCA DA REFORMA
Na Alemanha, o poder real era fraco. O chamado Santo Império Romano Germânico era formado por uma multiplicidade de principados, nos quais o poder político era exercido pela grande nobreza. A dinastia dos Habsburgos (imperadores do Sacro Império), necessitava do apoio do Papa para manter sua frágil hegemonia sobre os principados. Uma grande quantidade de terras do Sacro Império pertencia às instituições eclesiásticas. O maior comércio de indulgências era o da Alemanha.
Era nessa região que a igreja obtinha as suas maiores rendas. Apesar das contradições entre as várias classes sociais, todas elas tinham um inimigo comum - a igreja.
A nobreza feudal tinha interesse em apoderar-se das terras da igreja; a grande burguesia queria um clero menos custoso e ao mesmo tempo desejava impedir a fuga de capitais para Roma; os camponeses e os artesãos viam na igreja o seu grande explorador, com a cobrança dos dízimos, das rendas feudais, etc.

FATORES QUE MOTIVARAM A REFORMA NA ALEMANHA
Um fator primordial foi o ódio voltado por todas as classes sociais à Igreja Católica.
Outro fator foi o desenvolvimento do humanismo na Alemanha, com o aparecimento das Universidades. Esses humanistas satirizavam a vida dissoluta do clero, a moral religiosa medieval e as instituições eclesiásticas.
Entretanto, o fator imediato responsável pela deflagração da Reforma na Alemanha foi a venda de indulgências. O para Leão X, necessitando de dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, encarregou o monge Tetzel de vender as indulgências na Alemanha. Este levou ao máximo tal comércio. Lutero, um monge agostiniano, afixou na igreja de Wittenberg, onde era pregador, as 95 teses, combatendo a venda de indulgências. Em virtude dessa atitude, Lutero foi ameaçado de excomunhão pelo papa Leão X, caso não voltasse atrás. Lutero recusou-se a uma retratação, sendo excomungado e convocado a comparecer frente à Dieta Imperial, que iria se reunir em Worms, para ser julgado. Nessa Assembléia, pelo fato de muitos príncipes eleitores serem também hostis à Igreja, nada foi feito contra o monge. Entretanto, o imperador Carlos V fez passar um édito, declarando Lutero fora da lei. Todavia, passado o perigo da perseguição pelos soldados do rei, Lutero reiniciou a sua luta e o édito nunca foi posto em execução. A partir daí, a reforma proposta por ele expandiu-se pela Alemanha.

PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA REFORMA LUTERANA
A religião luterana tinha um caráter nacional na medida em que rompeu com o papado e colocou os pastores dessa igreja sob a direção dos príncipes alemães. A igreja luterana simplificou os rituais religiosos, tendo excluído todos os sacramentos da igreja católica, exceto dois - o batismo e a eucaristia - segundo Lutero, instituídos pelo próprio Cristo. A confissão passava a ser feita diretamente com Deus. Todo homem era considerado capaz de interpretar livremente a Bíblia. A reforma luterana foi uma reforma moderada que favoreceu a nobreza feudal e a grande burguesia.
A nobreza feudal foi favorecida tanto pelo fato de que os pastores dessa igreja ficavam sob a direção dos príncipes, como também pelo fato dela haver se apoderado das terras da igreja.
A grande burguesia foi favorecida, na medida em que se viu liberada das grandes obrigações financeira para com a igreja católica, permanecendo tais rendas na Alemanha.

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
O princípio básico da religião luterana é o da justificação pela fé. Através desse princípio, Lutero dava maior valor à fé do que às boas obras praticadas pelos fiéis como meio de ganhar a salvação. O fiel, para ganhar o paraíso, não deveria jejuar e sim submeter-se totalmente à vontade de Deus.
AS CONSEQÜÊNCIAS DA REFORMA LUTERANA
- A Revolta dos Cavaleiros (1522-1523) : Os cavaleiros pertenciam à pequena nobreza que estava sendo empobrecida com a concentração da terra nas mão dos grandes príncipes leigos e eclesiásticos. Imbuídos da doutrina luterana, que pregava uma igreja nacional e a subordinação do poder espiritual ao temporal, os cavaleiros levantaram-se contra os príncipes católicos. Essa revolta liderada por Ulrich Von Wutten e Francis Von Sickingen foi rapidamente dominada pela grande nobreza.
- A Guerra Camponesa de 1523-1525 ( a Revolta Camponesa de Thomas Münzer): entre os seguidores de Lutero, os mais radicais eram os anabatistas. Em matéria de religião, eram extremamente individualistas, rejeitando qualquer sacerdócio e acreditando que Deus continuava a se comunicar diretamente com os eleitos. Do ponto de vista social, a seita anabatista era composta por camponeses empobrecidos, por aprendizes de tecelão, ou seja, pelas camadas mais baixas da sociedade alemã. Seu principal líder era Thomas Münzer, que pregava o desaparecimento da propriedade privada. Os camponeses e os aprendizes das cidades revoltaram-se contra o domínio da grande e pequena nobreza, dos sacerdotes e dos cidadãos ricos das cidades.
Os camponeses revoltosos queriam que lhes fossem devolvidas as terras comunais, usurpadas pelos senhores e a diminuição do tributo em espécie e em trabalho. Na Alemanha Central, o movimento tornou-se tipicamente revolucionário, com os camponeses exigindo a abolição da servidão e a posse comunitária da terra. Em toda a Alemanha eram queimados os conventos e os castelos da nobreza feudal. Em algumas regiões, as cidades auxiliaram o movimento camponês.
A falta de união e organização nas forças camponesas facilitou o seu esmagamento pela grande nobreza, aliada aos cavaleiros, aos burgueses, à igreja luterana e à igreja católica. O próprio Lutero incentivou o esmagamento dos camponeses. Mais de 100 mil foram mortos e Münzer foi decapitado.
A Paz Religiosa em Augsburgo: as terras clericais passaram para a mão da grande nobreza. Mesmo alguns bispos abandonaram a igreja católica e se tornaram senhores dos principados eclesiásticos.
A igreja católica, vendo-se enfraquecida, permitiu que alguns príncipes católicos ficassem com as suas terras. Mas, no período compreendido entre 1530-1540, houve um aumento do número de príncipes protestantes.
Carlos V, imperador do Santo Império, era católico. Temendo perder a coroa para algum príncipe protestante, pois o imperador era eleito pelos príncipes, Carlos V voltou-se contra os príncipes protestantes. Os principados, vendo na ação do imperador uma tentativa de fortalecimento do seu poder, agitaram-se. Alguns príncipes católicos se aliaram aos príncipes protestantes, que também recebiam ajuda dos reis de França, e derrotaram Carlos V. Assumiu o poder Fernando I que, em 1555, assinou a paz religiosa de Augsburgo, onde ficou estabelecido que a religião do príncipe seria a religião do principado (cujus regio ejus religio). Assim sendo, o norte da Alemanha tornou-se protestante e o sul, católico.
A Reforma Luterana, pelo fato de favorecer a nobreza feudal, expandiu-se pelos países dominados por essa nobreza, tais como Suécia, Dinamarca e Noruega.
A Reforma Protestante foi um movimento predominantemente de transformação religiosa, iniciado fora da própria igreja e em oposição a ela.
Seria um erro considerar a Reforma como puramente um movimento religioso, pois este movimento teve implicações econômicas, políticas e sociais na medida em que refletiu as lutas de classe entre nobreza, burguesia, artesãos e camponeses do início da Idade Moderna.
Na Suíça, os responsáveis pela Reforma foram Ulrich Zwinglio e João Calvino.

BIBLIOGRAFIA HISTÓRIA GERAL - Antônio Pedro e Florival Cáceres - Ed.Moderna.

ESBOÇO DE ESTUDO SOBRE REFORMA PROTESTANTE - FATOS PRECEDENTES
HISTÓRIA DA IGREJA ATÉ A IDADE MÉDIA (476 a 1453)
Transformação da igreja apostólica em Igreja Romana. Primeiro fora da bíblia.
Depois contra a bíblia. As heresias da ICAR:
304 - Papa
310 – reza pelos mortos.
320 – uso de velas.
381 – nome “católica”.
394 – missa.
416 – batismo de crianças.
431 – culto a Maria.
503 – purgatório.
787 – culto às imagens.
830 – ramos e água benta.
933 – canonização de “santos”.
1184 – inquisição. (A igreja antes perseguida torna-se perseguidora).
1190 – indulgências.
1200 – hóstia.
1215 – transubstanciação.
1216 – confissão auricular.
1476 – missas pagas.
???? - celibato, terço, rezas

Após a idade média:
1854 – Imaculada conceição.
1870 – Infalibilidade papal.
1950 – Assunção de Maria.

QUADRO MUNDIAL NA IDADE MÉDIA
Igreja + estado
Idade das trevas. Responsável: igreja.
A corrupção moral da ICAR: (devido ao celibato), escândalos sexuais, bebedeiras.
Controle da educação. Exclusividade da interpretação da bíblia. Uso do latim para conservar o povo na ignorância.
Comércio da icar – simonia – relíquias sagradas (panos, espinhos) - 1190 – indulgências - resultado – a icar possuía terras em toda parte. Pregava a simplicidade e vivia no luxo às custas do povo.
Centralização conceitual e prático na Idade Média – terra x universo – Europa x mundo – icar x humanidade
Grupos insatisfeitos eram perseguidos e dizimados – petrobusianos, albigenses, valdenses, anabatistas, etc.

PERÍODO DE REVOLUÇÕES – Início séc. 14
Motivo primordial, historicamente falando – econômico.
Cresce comércio, surge a burguesia, torna-se classe poderosa, ameaça a nobreza, crescem os reis.
A igreja é vista como exploradora, manipuladora.
Queda das centralizações. A burguesia busca novos mercados. Grandes navegações, grandes descobrimentos, grandes idéias - renascimento – busca da literatura antiga da era pré-icar, inclusive a bíblia. Universidades e Erasmo de Roterdã.
Para alcançar novos mercados, a burguesia precisava conhecer mais o mundo. Isso estimula o conhecimento científico (Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico, Kepler).
1456 – Gutemberg imprime a bíblia.

A REFORMA PROTESTANTE
Motivo imediato – indulgências (p/ basílica).
Diversos grupos viram nela a solução de seus problemas. Interesses políticos, econômicos e sociais.

SEUS PRECURSORES
John Huss – Boêmia (1420).
Wycliffe – Inglaterra. Suas idéias: Todo homem está perto de Deus. Pregação e estudo da bíblia é mais importante que sacramentos. Contra mosteiros e propriedades eclesiásticas.

SUAS FRENTES:
Martinho Lutero – Alemanha
Ulrick Zuinglio - Suiça
John Calvino e John Knox – Suiça (depois Ing)– predestinação – os burgueses eram vistos como os eleitos –
Organização republicana para a igreja. Consistório (presbitério) – hereges eram queimados –
calvinistas – presbiterianos – puritanos.
Henrique VIII – Reforma doméstica (divórcio) – Igreja anglicana - daí vieram os puritanos, batistas e metodistas muito tempo depois. (Aviv.séc.XVIII).

MARTINHO LUTERO – Alemanha - 95 teses em Wittenberg –
ameaçado, protegido, excomungado – igreja luterana - luteranos anabatistas -
ITENS - justificação pela fé (rm)
Rompeu com o papado.
Eliminou sacramentos (-2)
Confissão direta a Deus.
Interpretação individual da bíblia

ORIGEM DO NOME “PROTESTANTE” – 1529 – Papa Clemente VII tentou proibir a pregação do evangelho em alguns estados da Alemanha – Os cristãos não católicos promoveram um protesto público contra o papa.

CONTRA REFORMA (iniciativa católica)
1546 – Inclusão dos livros apócrifos na “bíblia católica”.
Missões jesuítas.
Organização e moralização da ICAR.

ANALOGIA – Judaísmo x cristianismo - catolicismo x protestantismo – Deus não tem compromisso com um nome ou uma empresa registrada em cartório. Um tabernáculo sem arca. Uma empresa x “2 ou 3 reunidos em meu nome”.

DENOMINAÇÕES – (divisões por motivos doutrinários e outros. Os avivamentos normalmente trazem divisão).
Históricas
Batista
Luterana
Presbiteriana
Metodista (daí veio a Igreja do Nazareno)

Pentecostais (início século XX)
Assembléia
Cristã do Brasil
Deus é Amor
Brasil Para Cristo
Quadrangular

Renovados (início no final dos anos 50)
Batista, presbiteriana, metodista congregacional,

Outros
Adventistas, testemunhas de Jeová, universal, inúmeras outras

O QUE É O TEMPO?

Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido. Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: As perdas do ser humano.

Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos. Começamos a vida em perda e nela continuamos.

Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói. E continuamos a perder e seguimos a ganhar.

Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas porque alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair... E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por quê? Perguntamos a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.

Estamos crescendo. Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer.

Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando algo nos é tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres. Assim, se nossa tia às vezes nos parece feia tememos dizer-lhe isso.

Receamos dar risadas escandalosamente da bermuda ridícula do vizinho ou puxar as pelanquinhas do braço da vó com a maior naturalidade do mundo e ainda falar bem alto sobre o assunto. Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros. E aprendemos. E vamos adolescendo, ganhamos peso, ganhamos, seios, ganhamos pelos, ganhamos altura, ganhamos o mundo.

Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos ah! os sonhos!!! Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.

Aí, de repente, caímos na real! Estamos amadurecendo, todos nos admiram. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo. Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima (?) dos outros animais? A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações de modo lógico e racionalmente planejado?

E continuamos amadurecendo, ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma. E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar pum sem querer.

Mas perdemos peso!!! Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele beijo estalado, mas apertamos as mãos de todos, ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento, honrarias, títulos honorários e a chave da cidade. E assim, vamos ganhando tempo, enquanto envelhecemos.

De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso. e perdemos cabelos. Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir. perdemos a esperança. Estamos envelhecendo.

Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo. Afinal, quem nos garante que haverá mesmo um renascer, exceto aquele que se faz em vida, pelo perdão a si próprio, pelo compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede.

Que a gente cresça e não envelheça simplesmente. Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie. Que tenhamos rugas e boas lembranças. Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia. Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos. E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos, sintam-se amados mais do que saibam-se amados.

Afinal, o que é o tempo? Não é nada ...

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

METODOLOGIA CIENTÍFICA - METÓDOS INDUTIVO E DEDUTIVO

O PROBLEMA DO MÉTODO NA FILOSOFIA DO DIREITO - um breve exemplo

SUMÁRIO SOBRE OS MÉTODOS:

Métodos positivistas.
Enfatiza a ciência e o método científico como única fonte de conhecimento, estabelecendo forte distinção entre fatos e valores.
O método indutivo.
O método dedutivo.


A indução apresenta duas formas:
- A indução formal. Aristóteles.
- A indução Incompleta ou científica. Galileu e Bacon.

O método dedutivo.
O método dedutivo é um método lógico que pressupõe que existam verdades gerais já afirmadas e que sirvam de base (premissas) para se chegar através dele a conhecimentos novos.

Na dedução se as premissas são verdadeiras a conclusão será sempre verdadeira.

O método hipotético-dedutivo.

Consiste na construção de conjecturas, que devem ser submetidas a testes, os mais diversos possíveis, à crítica intersubjetiva, ao controle mútuo pela discussão crítica, à publicidade crítica e ao confronto com os fatos, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas na luta pela vida, resistindo, portanto, às tentativas de refutação e falseamento.

Método estruturalista.
O que importa no modelo estruturalista é o estudo das relações entre os elementos.

Método dialético.
No universo nada está isolado, tudo é movimento e mudança, tudo depende de tudo.

EXPOSIÇÃO

O escopo do presente trabalho é tentar nortear alguns dos principais aspectos de suma importância à filosofia do direito, que é o método.
O singelo trabalho também enfatiza alguns dos principais pensadores e suas respectivas obras, através de uma linguagem simples.
Precipuamente cabe destacar que na doutrina de José Cretella Júnior, prescreve que o caminho escolhido, estas ou aquelas serão as consequências advinhas. Uma via errada ou inadequada conduzirá a resultados muito diferentes daquelas que a exatidão cientifica exige, razão pela qual, na procura de procedimentos racionais, no indagar das vias apropriadas, é necessário descobrir a rota exata que conduza com maior rapidez e com maior rigor aos fins perseguidos.
Assim como nas ciências físico-naturais há um caminho adaptado aos objetos do mundo físico-objetos naturais -, assim também na ciência jurídica se exigirá um tipo de método que se amolde ao mundo cultural em que se movimenta o direito. Não quer isto dizer que este método não se amolde ao mundo cultural em que se movimenta o direito, tudo dependendo da posição filósica tomada, porque para o empirista jurídico o direito é objeto natural e, como tal, deve ser tratado.
Do mesmo modo que não é indiferente, na maioria das vezes, escolher a via terrestre, marítima ou aérea para chegar a determinado ponto situado, respectivamente, na terra, no mar ou no ar, porque o veículo ou instrumento selecionar no mundo das ciências e da filosofia quais as vias mais adequadas para a perfeita integração sujeito-objeto.

CONCEITO DE MÉTODO
O caminho trilhado pelo sujeito para a descoberta da verdade, caminho este assinalado por um conjunto de normas do pensamento humano, recebe o nome de método, do grego meta=além de, e ódos = caminho, via.
O método tem por finalidade conduzir o sujeito ao objeto, ao conhecimento, à verdade, sendo esta a adaequatio intelectus et rei, conforme a afirmação tomista.

"A arte de bem dispor uma sequencia de diversos pensamentos, ou para descobrir a verdade, quando a ignoramos, ou para prová-la aos outros , quando já a conhecemos", segundo Descartes “o método é indispensável para orientar a razão e buscar a verdade nas ciências”. O modo racional de conduzir o pensamento para chegar a determinado resultado e, em especial, para descobrir a verdade, é o complexo de regras às quais deve ater-se a mente humana nos seus processos cognoscitivos.

A ideia de método é sempre a de uma direção suscetível de ser definida e regularmente seguida numa operação do espírito.
Cabe a metodologia o estudo e classificação dos métodos peculiares às diversas ciências.

A definição, a classificação e a escolha do método merecem toda atenção, porque método e objeto se acham estreitamente unidos e da boa escolha do caminho vai depender a apreensão mais rápida e mais perfeita da verdade.

ESPÉCIES DE MÉTODOS
Dividem-se os métodos em duas grandes classes, os métodos discursivos e os intuitivos.

Os discursivos, também denominados de interferência remota, mediata ou indireta, consistem numa série de procedimentos sucessivos em torno do objeto, para apreendê-lo, por meio de proposições e discursos que progridem em sucessivos envolvimentos. Por meio de esforços dialéticos, concretizados em juízos enlaçantes, o espírito humano procura apreender o objeto. Ao invés de caminhar diretamente para o objeto, o espírito caminha em círculos concêntricos até o enquadramento exato do alvo colimado.

Os métodos intuitivos, também denominados de interferência imediata ou direta, consistem numa operação total, única e indivisa do espírito , que se projeta sobre o objeto e o domina, abrangendo-o numa só visão ou intuição, sem que nenhum discurso, proposição ou juízo se interponha entre os termos constitutivos do binômio do conhecimento, sujeito e objeto.
Se intuição é visão, se intuir é ver (do latim intueri=olhar, ver), o método intuitivo permite que o espírito veja o objeto, sem interposição alguma.
Tanto os métodos discursivos como os métodos intuitivos apresentam modalidades, assim agrupadas:

Métodos discursivos: dedutivos, indutivo e crítico de Aristóteles e Bacon.

Métodos intuitivos: sensível, espiritual, de Bergson, Dilthey, Husserl e Heidegger, sendo estes intelectivo, emotivo e volitivo.
O Método dedutivo ou dedução foi conhecido na Grécia, tendo sido estruturado por Aristóteles e levado ao extremo, na Idade Média, pelos escolásticos que, partindo de premissas consideradas provadas, chegaram a conclusões audaciosas ou absurdas, desmentidas mais tarde pelo progresso científico, levado a efeito no campo das ciências físico culturais .
O método de Aristóteles consistia nas formas indutiva e dedutiva de raciocinar. O raciocínio dedutivo consiste em argumentar do geral para o particular.

Dedução é a operação do espírito que consiste na passagem de uma proposição ou de um pequeno número de proposições gerais a outra proposição, menos geral, que é a sua consequência necessária, em obediência, tão só, às leis da lógica. Exemplo típico de método ou raciocínio dedutivo é o silogismo, o qual muitos identificam, sem razão, com a dedução.

O método indutivo ou indução, também conhecido desde Aristóteles, recebeu nova formulação com Bacon. A indução aristotélica é também denominada completa ou integral; a indução baconiana é denominada amplificadora. A indução aristotélica baseia-se na enumeração total das espécies de um gênero ou dos indivíduos de um conjunto, como quando se conclui que "os planetas descrevem elipses em torno do sol”, porque o que afirmamos para cada um dos planetas (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão), que constituem uma coleção, afirmamos numa só proposição, para todo o gênero. Daí, Ter Port Royal afirmado que "a indução não é meio certo de conhecer uma coisa, a não ser quando estamos certos de que é completa.”.

Conclusões indutivas são perigosas, pois generalizações de premissas verdadeiras podem levar a uma falsa conclusão. O primeiro a perceber o caráter incerto de conclusão indutivo foi Aristóteles, mas o primeiro a formulá-lo de forma mais precisa foi David Hume (1711-1776). Humes formulação do problema acentua o caráter temporal das induções: De afirmações sobre o passado e o presente não podem ser deduzidas prognoses absolutamente seguras sobre o futuro. Ou seja, mesmo que todos os cisnes até hoje observados sejam/tenham sido brancos, não se pode afirmar com absoluta convicção que todos os cisnes sempre serão brancos. Um exemplo mais humorístico oferece Bertrand Russell: um peru que todas as manhãs recebia ração estaria errado ao supor que no dia 24 de dezembro também receberia ração: neste dia ele foi para a panela.

A validade universal de uma hipótese científica não pode ser verificada definitivamente através de um número finito de observações, medições e experimentos.

O problema da insegurança de conclusões indutivas foi reforçado por Nelson Goodman no século XX Conclusões indutivas não são somente possivelmente erradas, mas também em alguns casos contraditórias.
DAS DIVISÕES DO MÉTODO
O método intuitivo ou intuição não procede por degraus, por partes, mas de uma vez. Sem nenhuma interferência prévia, o espírito capta o objeto com uma só operação instantânea. Nada se pergunta ao raciocínio, nada se indaga à razão, motivo porque a intuição é denominada por alguns de irracionalismo.
Dividem-se em:
Intuição sensível ou sensória: o sujeito capta imediatamente as manifestações do mundo, representa os objetos dentro de si, individualmente e, por isso, vale este método apenas para os casos particulares que, por meio das sensações, são revelados, um a um, ao sujeito cognoscente.
Intuição espiritual: que consiste na imediata projeção do espírito sobre o objeto, como, por exemplo, quando vemos, num relance rápido da mente, que "uma coisa não pode ser e não ser o mesmo tempo", isto é, intuímos, diretamente, sem auxílio de demonstração e dos sentidos, mas com imediata evidência.
A intuição espiritual divide-se em:
Intelectual: é um ver com inteligência;
Emotiva: é um ver acentuadamente místico, que encontra na antiguidade um insigne representante em Plotino, revela-se a cada passo na obra de Santo Agostinho, sendo que para este “a verdade esta no interior do homem";
Volitiva: é a realidade existencial do objeto, levando o ser a entender a existência do ser.

OS MÉTODOS E OS GRANDES PENSADORES


O Método Indutivo de Bacon
Bacon propõe como processo de busca do conhecimento o método indutivo. Contudo, preocupa-se em distinguir seu método da indução aristotélica que julgou ser puramente lógica e incidente sobre a natureza, aparecendo como simples enumeração de casos particulares. O objetivo da indução para Bacon foi atingir os princípios dos fenômenos através da generalização. Para tanto, ele fez da experimentação a base de seu método, mas, sem pretender prescindir do intelecto. Bacon considerava a razão como indispensável na análise e exclusão dos casos particulares, porque acreditava que os sentidos são simples fornecedores de informações ordinárias e não conclusivas. Bacon fez a apologia do método experimental, propondo a indução como condição para alcançar os princípios mais gerais dos fenômenos, não ficando limitada ao fato particular.

O método permitiu remontar gradualmente os dados pela exclusão dos casos particulares, cuja escolha ou exclusão eram determinadas pelas sucessivas experiências até que se atingisse a verdadeira natureza do fenômeno. As Tábuas foram os instrumentos propostos por Bacon com a finalidade de sistematizar os dados, recolhendo-os da natureza de acordo com uma ordem idônea, bem apropriada às exigências do intelecto:

As tábuas de Presença agrupam os aspectos conhecidos sobre as "circunstâncias em que certa 'natureza', por exemplo, o calor, habitualmente se apresenta".

As tábuas de Ausência agrupam "aqueles casos que são privados da natureza em questão, embora estando próximo ou ligados àqueles que a apresentam".

As tábuas de Grau ou Comparativas agrupam "aquelas instâncias ou casos em que a natureza procurada se encontra em diferentes graus, maiores ou menores; o que deve fazer-se comparando o seu aumento e a sua diminuição no mesmo sujeito ou comparando sujeitos diferentes, confrontados um com o outro".

A partir dos dados recolhidos, inicia-se a indução propriamente dita, comparando primeiramente as naturezas excedentes, negativas, e em seguida inicia-se a parte positiva da indução que indicará uma hipótese provisória chamada "primeira vindima". Esta hipótese será posta a prova através das instâncias prerrogativas, que variam em vinte e sete espécies chamadas instâncias: solitárias, migratórias, impressionistas, clandestinas, manipulares, analógicas, etc... A instância decisiva foi denominada "instância crucial".

Todo processo de indução visou estabelecer a causa dos fenômenos naturais. Para Bacon a causa é a forma, apesar de negar Aristóteles, ele reportou-se diretamente ao significado aristotélico de forma substancial. Entretanto, Bacon afirmou que a busca e a descoberta da forma deve ser fundamentada em um processo experimental e não em processos conceituais. Segundo Abbagnano (1982), Bacon apesar de ter reconhecido a estrita conexão entre a ciência e o poder, tornando-se "o profeta da técnica", não considerou o papel definitivo da matemática dentro da ciência moderna.

O Método de Sócrates: A Maiêutica e a Dialética de Platão

Sócrates usava o método de perguntas e respostas, que consistia em ajudar as pessoas por mais ignorantes e incultas que fossem, a gerar dentro de suas mentes toda a sabedoria incubada não revelada anteriormente, criando ambiente favorável para que os indivíduos dessem a luz às suas ideias. Desse modo Sócrates era tido como um "parteiro", ajudando no parto da manifestação da sabedoria mesmo do mais humilde escravo, por acreditar que a verdade é inata à mente humana, bastando para tanto fazer com que elas ponham tudo para fora.
Tanto Sócrates, como Platão que foi seu discípulo, acreditavam que a verdade era inata a todos os homens que a conheciam em uma existência prévia. E assim que a pergunta de modo acertado é feita, a memória da pessoa é estimulada a evocar aquilo que já sabe.

O método de perguntas e respostas é muito interessante em muitas ocasiões, como forma de conhecer-se a verdade contida em cada pessoa humana, contudo os conceitos de Sócrates são duramente criticados por filósofos contemporâneos, quanto às capacidades inatas do homem, principalmente por afirmar a sua preexistência.

Outro fator dentro deste método que é olhado com certa desconfiança é o fato de que quem pergunta poderá levar o perguntado a predispor a resposta, assim a sabedoria está com aquele que pergunta e não com aquele que é perguntado.

A filosofia contemporânea acredita que a mente humana começa como uma tabula rasa, que com o decorrer dos anos vai somando ideias e experiências.
Dialética - Em Platão a dialética é o processo pelo qual a alma se eleva, em degraus, da realidade sensível ao mundo das ideias. É um instrumento de busca da verdade. É o aperfeiçoamento da maiêutica de Sócrates.

Em Hegel, é o movimento racional que nos permite superar uma contradição. Assim, na história vemos uma tendência, e a ela volta-se uma oposição, criando uma tensão, que é superada por uma nova tese que traz a solução. É o movimento tese, antítese e síntese. Não se restringe apenas a história, mas deve ser encarada como parte do real, uma forma de pensar evolutiva.
O Método De Aristóteles: A Lógica
As investigações lógicas tiveram início com os antigos filósofos gregos. Foi Aristóteles quem primeiro estabeleceu regras para nortear a construção de raciocínios corretos, capazes de servir a ciência. Para Aristóteles, a lógica seria um instrumento para a ciência e a filosofia. A lógica Aristotélica estava, assim, a serviço de uma explicação da realidade e baseava-se na distinção entre verdadeiro e falso. Por outro lado, representava, sobretudo um esforço de correção da linguagem natural, permanecendo quase completamente nos limites dessa linguagem feita de palavras. Preocupava-se com as palavras (termos) e com as proposições e raciocínios construídos com essas palavras. Investigando os tipos de raciocínio, Aristóteles atribuiu grande importância àquele que chamou de silogismo de duas proposições dadas (por exemplo, "Todos os homens são mortais" e "Sócrates é homem") deve decorrer necessariamente uma determinada conclusão ("Sócrates é mortal").

O Método de Galileu:
A confiança que Galileu mantinha na verdade da filosofia natural era assegurada pela investigação direta da natureza, através do uso de instrumentos e das experiências que comprovaram suas teorias matemáticas. "Só o livro da natureza é o objeto próprio da ciência e este livro é interpretado e lido apenas pela experiência".

Com este argumento, Galileu se opôs ao pensamento escolástico reacionário do século XVI, que havia esquecido os princípios empiristas de Aristóteles e Tomás de Aquino, ficando preso ao conhecimento livresco do "mundo de papel".

Outro ponto de suma importância no método experimental é a relação estabelecida entre a observação da natureza e o raciocínio matemático.
Galileu objetivou e quantificou os elementos naturais, tomando como cientificamente válidas as qualidades mensuráveis dos corpos, considerando as qualidades não mensuráveis como qualidades sensíveis determinadas pelo sujeito e não pelo objeto.

A realidade objetiva e matemática dispensaram as determinações conceituais genéricas como "grande", "pequeno", "próximo" ou "distante", bem como as determinações sensíveis, sons, odores, sabores ou cores, adotando as determinações mensuráveis e os padrões quantitativos como extensão, distância e tempo.

O Método de René Descartes
Descartes definiu seu método como um conjunto de regras que, devidamente observadas, conduziriam ao conhecimento verdadeiro. Impossibilitado de tomar o falso pelo verdadeiro, só restaria ao seguidor do método a ampliação do conhecimento sem nenhum esforço mental inútil. Na segunda parte do Discurso sobre o método,
Descartes apresenta quatro regras fundamentais:
Regra da evidência: Jamais aceitar alguma coisa como verdadeira, se isto não for evidente, caso a coisa não se apresente clara e distintamente ao espírito sem deixar margem de dúvida, não pode ser considerada como verdadeira. Esta não é uma regra conclusiva, entretanto, é uma regra exclusiva, caso a proposição não atenda a condição de verdade evidente, deve ser imediatamente excluída. "O acto com que o espírito atinge a evidência é a intuição". A intuição é puramente racional e, por sua imediatividade, opõe-se à conjectura e antecede à dedução, de forma instantânea a mente colhe seu o próprio conceito e se torna transparente para si mesma.
Regra da análise: Em geral, uma dificuldade é um conjunto de pequenos problemas, a análise da questão procura separar detalhadamente todas as partes do problema em maior número possível, entender as particularidades de cada uma e sua função como componente do todo. Agindo desse modo, elimina-se as complicações supérfluas e torna-se mais simples o problema, ordenando sua solução em torno da resolução das dificuldades encontradas em cada uma das partes.
Regra da síntese: A partir do desmembramento de uma dificuldade em pequenos problemas e da solução dos problemas em partes, deve-se conduzir os pensamentos por ordem, começando pelos objetos mais simples e fáceis de se conhecer e aos poucos ir rejuntando as partes e elevando o grau de complexidade das questões. Esse processo exige um procedimento ordenado análogo ao da geometria e prescreve que todo saber possa ser ordenado dessa forma. A ordem assim designada é a ordem da dedução, que é outro ato fundamental do espírito humano. A ordem dedutiva parte das coisas simples que Descartes chamou de absolutas para as mais complexas e interdependentes, que devem ser deduzidas e são denominadas relativas.
Regra da enumeração: "Fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que se fique certo de não omitir nenhuma. A enumeração controla a análise, enquanto a revisão controla a síntese.”.
A partir da intuição, desencadeia-se o processo dedutivo para comprovar e explicar uma tese. O problema é repartido através da análise e os dados analisados são recompostos através da síntese. O controle do processo é feito através da enumeração, que garante o rigor científico da comprovação.
O Método de Gottfried Wilhelm Leibniz
Considerado um dos filósofos realmente a altura de um Aristóteles ou de um Descartes, teve uma autoridade científica indiscutida, tanto em matérias de jurisprudências, filosofia, física, matemática e teologia.
Teve a percepção clara de onde se encontrava a falha, ou defeito, isto é, o ponto fraco do empirismo inglês, apesar de não conhecer da matéria nada além do que a obra de Locke. Apesar disso, bastou-lhe o conhecimento das obras de Locke para se chegar ponto central onde estava a originalidade e ao mesmo tempo, a falha, o perigo do empirismo inglês. Viu de imediato que a falha consistia no seu intento de reduzir o racional a fático; a razão a puro fato, porque há uma contradição fundamental nisso:
Se a razão se reduz a puro fato, deixa de ser razão; se o racional se converte em fático, deixa de ser racional - porque o fático é aquilo que é sem razão de ser, enquanto o racional é aquilo que é razoavelmente, quer dizer, não podendo ser de outra maneira. Em consequência, percebeu de imediato, e com grande clareza, que o defeito fundamental de todo psicologismo, ao considerar o pensamento como vivência pura, é que o racional se convertia em puro fato, isto é, deixava cair sua racionalidade como um admnículo inútil. Porém não existe nada mais contraditório que o racional deixe cair sua racionalidade, porque então o que resta é o irracional.
A TEORIA DOS OBJETOS
Correlato ao problema do método e aprofundamento ao sujeito é o problema do objeto.
Desse modo, o sujeito procura captar o objeto através do método.
Tão importante é o estudo do objeto, que uma parte da filosofia se isolou para estudá-lo - a objética, que é a ciência dos objetos.
Objeto é algo que se põe diante do sujeito, algo que se lança ou se atira diante de outra coisa. Podendo ser tudo aquilo que pode ser sujeito lógico de um juízo. É tudo aquilo a respeito do que se pode predicar algo. Predica-se pelo juízo, pelo ato do intelecto que afirma ou nega algo.
Pode-se dizer que:
Objetos são:
Naturais: físicos (pedra, rio, montanha, lua, sol, vulcão) e psíquicos (memória, atenção, amor, ódio).
Culturais: como a estátua, o quadro ou os instrumentos.
Ideais: como um quadrado, um retângulo ou números.
Metafísicos: claro Deus.
Daí teremos, segundo José Cretella Júnior:1

Objetos Existência Experiência Valor Métodos
Naturais Reais Experimentais Neutros Indutivo
Culturais Reais Experimentais Valiosos Dialético
Ideais Irreais Não experimentais Neutros Dedutivo
Metafísicos Reais Não experimentais Neutros Intuitivo
Valiosos

O DIREITO NO MUNDO DOS OBJETOS:
Os adeptos da teoria do direito consideram o direito como objeto ideal, raciocinando que a Ciência do Direito ou Jurisprudência trabalha com normas e que estas não diferem daqueles com que lidam os matemáticos. Pensava o criador do normativismo, Hans Kelsen, pelo menos em sua primeira fase, quando chefiava a Escola de Viena, que o edifício jurídico era uma pirâmide de normas lógicas, apartadas da realidade e que deveriam ser vistas em suas interelações.
1.Júnior , José Cretella, 2002 , Curso de Filosofia do Direito . 8ª edição, página 61

O direito é, pois, um objeto. Objeto que decorre das relações humanas, porque sem o homem não há o direito e reciprocamente. ubi societas, ibi jus. Ubi jus, ibi societas. O direito foi construído por causa dos homens. É um construído, um produto do trabalho humano.

MÉTODOS DA FILOSOFIA DO DIREITO
No estudo do complexo fenômeno jurídico, dada a natureza toda especial desse objeto, qual das vias deve ser selecionada pelo espírito humano para surpreender essa constante da história da humanidade.
Compete a filosofia do direito, lógica, deontológica e fenomenológica.
Filosofia do Direito é a disciplina que define o direito em sua universalidade lógica, investiga os fundamentos e os caracteres gerais de seu desenvolvimento histórico e o valora segundo ideal da justiça traçado pela razão pura.
O método dedutivo como o mais adequado às duas primeiras investigações e o método indutivo como o mais adequado à indagação fenomenológica, explicando a seguir que o primeiro desses métodos compreende duas modalidades, o genético, que observa as fases originárias e o comparativo, que faz o confronto dos vários sistemas jurídicos. Pedro Lessa, que atribuiu a esta matéria extraordinária importância, a ponto de colocá-la em primeiro lugar nos estudos que empreendeu sobre esta disciplina, acentua que determinar com precisão o método adequado ao estudo desta disciplina fora resolver a mais grave dificuldade. 2

2."Lessa , Pedro, Estudos da Filosofia do Direito, página 3".
Depois de estudar os métodos dedutivo e indutivo relega o primeiro plano secundário, inclinando-se de modo manifesto para o segundo.
Del Vecchio apreendeu de modo admirável o aspecto metodológico, no campo da filosofia do direito, e numa expressiva simplificação didática da matéria, mostrou a adequação de cada método ao respectivo campo de estudo e ao objeto visado.

Não basta, muitas vezes, um só método, visto que o objeto se apresenta com vários aspectos e todos precisam ser atingidos.
Se para atingir o acidente geográfico distante, situado de tal modo que uma parte se localiza na terra firme e outra avança pelo mar, sendo, porém, inacessível o cume por qualquer destas duas vias, terra ou mar, é necessária a utilização conjunta de muitos processos combinados e de veículos e máquinas que o captem por todas as vias possíveis, terra, mar e ar, a fim de completar-se o integral apressamento, assim, também cumpre não esquecer que o mesmo problema (aspecto material), encarado sob os ângulos diversos (aspecto formal), só poderá receber completa solução quando se utilizam, simultaneamente, muitos métodos.
Desse modo, no estudo do direito, que é uma unidade proteiforme, não basta lançar mão apenas de um método, mas de vários, conforme o ângulo ou ângulos que o sujeito cognoscente pretende apreender.
A dedução é própria do racionalismo jurídico. Assim procedeu a escola do direito natural clássica, o mesmo ocorrendo com a escolástica e, em geral, com toda a escola teológica.

Santo Tomás, na suma teológica, serve-se do método dedutivo, tomando, como ponto de partida um princípio de justiça ou de direito, do qual vão derivando regras, proposições, teoremas, corolários, escólios.
No campo da técnica jurídica, a dedução aparece com toda a nitidez que lhe é peculiar. A norma, tal como se acha nos códigos, é a premissa maior, diante do caso concreto. Trata-se de deduzir um juízo jurídico particular, tomando-se como referencial uma hipótese dada, que é a disposição legal existente. A própria sentença é, para os partidários do método dedutivo, um simples silogismo, formado pela premissa maior, a lei, e a premissa menor, os fatos e ainda a conclusão a parte dispositiva da sentença. "Quem infringir este dispositivo terá a sanção X. Fulano infringiu a disposição X. Logo, Fulano terá sanção cominada".

Em nossos dias, como o inegável progresso da filosofia e seus imediatos reflexos no campo da filosofia do direito, a sentença judiciária, é o momento culminante do drama jurídico, não mais se reduz a um mero e frio silogismo.
Mais do que um silogismo, é um tomada de posição constante, em todo o decurso da lide, é a resultante de uma série infinita de atitudes valorativas.
Estudando a natureza axiológica da sentença judiciária, os modernos autores ressaltam-se os traços peculiares, mostrando-a como "a vivência normativa de um problema, uma experiência axiológica, na qual o juiz se serve da lei e do fato, mas cotejam tais elementos com uma multiplicidade de fatores, iluminados por elementos intrínsecos, como sejam o valor da norma e o valor dos interesses em conflito".
Como, sem empregar o método intuitivo, vivenciando o fato, procurando reconstituí-lo, eliminando o acessório. Do principal, transportando-se para o interior dos acontecimentos para captá-los naquilo que eles têm de característico, poderia o magistrado exprimir seu juízo valorativo, consubstanciado na sentença, dai o porquê se estuda o problema do método.

Em suma, o problema do método para a filosofia do direito para captação melhor do fenômeno jurídico é realmente difícil, devendo ser colocado sob os aspetos materiais e formais, como demonstrados no decorrer do presente trabalho.

O direito é um só. É um objeto, objeto cultural. Manifestando-se, porém, sob vários aspectos, cada um de seus ângulos vai condicionar um método especial, mais compatível com a natureza do ângulo apresentado, pelo que se conclui que, ainda aqui, todos os métodos estudados pela filosofia podem ser transportados para a filosofia do direito, tudo dependendo do momento da experiência jurídica que se pretende apreender.


CONCLUSÃO

O Método é o caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido de antemão refletido e deliberado.

BIBLIOGRAFIA

MORENTI, Manoel Garcia. Lições Preliminares de Filosofia

JÚNIOR, José Cretella. Curso de Filosofia do Direito. 8ª edição. 2002

LESSA, Pedro. Estudos de Filosofia do Direito. 1ª edição.2000

FREITAS, Juarez. As Grandes Linhas da Filosofia. 3ª edição.